Muitos talvez o desconheçam, mas o grande Jerry foi muito mais que um querido canastrão a fazer caretas e quedas abruptas em frente a uma câmera. Aquela persona nasalada de rapaz-homem, foi senão um lanço na longa estrada Jerry Lewis.
É de atentar a pequena mão-cheia de actores de comédia que realmente se tornaram lendas, e ele, sem dúvida que é aqui se enquadra.
A sua forma de actuar era tão simples e pateta que acabava por se tornar genial em simultâneo. Veja-se com um olho crítico alguns trechos dos seus melhores filmes, e entender-se-á de imediato o quão inspirado ele era.
Os dois realizadores que melhor souberam trabalhar o seu talento foram: Frank Tashlin ("The Disorderly Orderly" 1964, "It's Only Money" 1962, "Cinderfella" 1960, "Rock-a-Bye Baby" 1958) e Norman Taurog, este segundo, dirigindo-o em pequenas pérolas do inicio da sua carreira, alguns destes ainda em parceria com Dean Martin. Tendo sido esta dupla, Martin & Lewis que o catapultou da obscuridade dos inúmeros espectáculos que fazia em bares, casinos e salas de comédia, para um estrelato sem precedentes durante a primeira metade dos anos 50.
O duo terminou abruptamente, por questões que ainda hoje permanecem um mistério, e ambos prosseguiram carreiras a solo muito bem sucedidas.
No caso de Jerry, porém, homem extremamente versátil e muito curioso com tudo o que envolvesse o trabalho em cinema, a vontade de se colocar atrás da câmera foi quase imediata, dirigindo-se a si próprio, em alguns dos seus melhores filmes: "The Bellboy" 1960, "The Ladies Man" 1961, "The Errand Boy" 1961, "The Nutty Professor" 1963, "The Patsy" 1964 e "The Family Jewels" 1965.
Em cada um destes filmes, todos escritos ou co-escritos por si, tentava sempre explorar e abrir novas técnicas de se fazer cinema, inovando na aplicação de música ao vivo, perfeitamente bem integrada na história, no desenvolvimento cénico e de design artístico e inclusivamente, na criação de novas tecnologias, como é o caso do video assist - o sistema, hoje comum, que permite a um realizador ver num monitor o que a câmara está a captar, em vez de estar de pé junto ao cameraman. Isto foi invenção sua.
A Jerry interessavam-lhe as "humanidades do filme", como lhes chamava. Referindo-se às pessoas, electricistas, carpinteiros, modelistas de miniaturas, operadores de gruas, maquiadores, e todos os que contribuíam de forma equitativa para a feitura do filme. Passava horas com estas pessoas e aprendia-lhes os ofícios, porque gostava de saber tudo.
Paralelamente, chegou também a leccionar cinema, na USC (University of Southern California) em Los Angeles, tendo sido convidado pela editora Random House a escrever 'o livro' fundamental sobre a imersão total da realização de filmes de comédia, - ou de filmes em geral. - Um livro, amplamente estudado por imensos realizadores que lhe seguiram e que demostra claramente a genialidade de Jerry Lewis.
Não foi por acaso que Scorcese, que muito o apreciava, lhe dedicou o filme "The King of Comedy" 1982, foi porque Jerry, realmente, foi um rei na comédia do seu tempo, e um homem cioso da sua privacidade e do seu espaço muito próprio, criativo e inquieto. Teve uma carreira de muitos altos e baixos, com algumas controvérsias pelo meio, mas a homenagem é mais do que devida, pois foi um gigante entre gigantes, e deixará muitas saudades a todos quanto, como ele, amam o cinema.
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Capa do Livro de Jerry Lewis "The Total Film-Maker" |
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