Venho aqui dizer-vos isto com a melhor das intenções: sois uma merda!
Aliás, sois pior que uma merda.
A merda ao menos é directa e pura. Sabe o que é e não se vende por qualquer fragrância mais convidativa. A merda entende que ser uma merda não é fácil, mas tem de existir à mesma e, caramba, como ela existe!
A merda, amiúde, até canta, em voz soprano. Compõe-se e decompõe-se pela água. A merda não polui, como vós poluís o que vedes e lês. A merda é consistente, e se a quiserdes despejar ela vai, segue em frente. Não fica de joelhos a pedir miminhos. A merda esbandalha-se por vós, e o que fazeis em retorno?
Nada! Ou pior que nada, puxais o autoclismo do desprezo. A merda ressente-se também, sabeis? A merda chora até. É uma verborreia descontinuada que lhe escorre pelo olho, mas chora, sim. Passa noites em claro, sem sequer ir à cama e põe um lenço encapelado ao correr do volume, para que não lhe vejam as iminências da dor. A merda sofre também.
Sois a grotesca desgraça da limpeza tribal. Sois ingratos, amordaçados pelos guias expostos. Sois pior que a merda, sim. Pior que a merda são os dejectos dos corpos supremos, onde pululais como virgens ansiosas por marsapos de nomes sonantes. Sois putas ao serviço da eternidade de quem já nem vos precisa, pois sois. Vendidos aos interesses mais comuns. Apáticos quanto baste, até que algum corno proeminente vos mostre algum caminho novo, nem vos mexeis, nem comentais, nem partilhais o labor da merda. Porque a merda é merda, alguém vos disse. E a merda é de se deitar fora. Deitai então. Ide-vos. Não sois nenhuma merda, pois não? Não. Então que fazeis por estas taças brancas de concavidades estéreis? O quê? Aqui vive a merda, é o seu mundo, com tudo o que lhe cabe de existência.
Sois seguidores dos cheiros institucionais. Entristeceis-me!
Sois pior até, porque aqui nem cabe o encaixe da posteridade, mas passais por aqui fingindo interesse, como a se a merda fosse uma exposição de arte moderna pendurada em um auditório qualquer. Não é. A merda vive, impregnada de nutrientes. A merda quer prolongar-se pelo que possa adubar de grandeza, mas como é merda, colou-se-lhe o rótulo e fechou-se-lhe a tampa em cima.
A merda entende-vos, não é bonita como os jardins floridos, como os céus encantadores. Não é misteriosa como quereis, é merda somente, mas caga-vos em cima, à mesma, porque a merda não quer seguir abaixo por esse esgoto onde viveis. A merda quer ser considerada, ainda que seja merda, é tão sólida que o merece. Ainda que seja merda, não é nada.
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