Como hei-de explicar que não se entra, assim, pelo Amor fora?
Que é um processo de explosões,
misto de engodo, insensatez, beijos oblíquos e cheiros bons.
por vezes anda-se a manifestos estoiros com a cabeça rebatida no mundo-plano
e as estradas são todas estrangeiras
quem se achega, vem a evitar a flora mirrada da desistência do próprio peito
e seus olhos já viram montado de sobra
e heróis fatigados, agarrados como podem ao vento.
Entre os mais-ou-menos imperfeitos
procuram-se superpoderes para dar a volta a isto.
(serpenteando por árvores despidas da cintura para baixo,
que deixam marcas tão fortes
que bem se pode estar uma década sem conseguir fazê-lo de novo).
É então que se lançam as sebes ao alto
e a protecção dos muros é como um livro interrompido
ou dói ou tem pressa de ir embora de vez.
De concreto fica só o muro
a buganvília e o jasmim cheiroso perdem logo a altivez.
Mesmo assim, sentimo-nos num caminho a sério
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Há uma certa ordem a alinhar o desgovernado amoroso,
prepara-nos para o salto das fronteiras.
Os casebres da solidão já não assustam
e pelos terraços de mau-tempo
os rafeiros apresentam-se bem presos.
aproximamo-nos da emoção aparada
com a curiosidade de um pardal;
arrancamos uma folhita desprevenida, só para cheirar,
e seguimos por aquele estradão de levadas inconstantes.
Quando o casario afunila e se inclina para nos ver melhor,
sente-se um certo desconforto ao nível do sobressalto
mas os azuis, os vermelhos e os amarelos que bordejam os brancos,
distraem e impedem que se veja o tapete de alcatrão por onde já caminhamos.
E depois, há sempre o sorriso tranquilizante que traz as regras de trânsito,
ignorando nós que aqueles abraços que tricotam alegria,
também se remexem das mesmas poções que nos borbulha cá dentro.
Quando se dá por ela, já estamos na rotunda; bem no meio do Amor.
Aí só nos resta levantar a cabeça e circular pela direita,
resmungando uns monossílabos desconexos aos outros,
que por lá andam, também aos encontrões.
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