Avançar para o conteúdo principal

Recordações do Futuro



Pequeno excerto do novo livro, que vai dando o trabalho duro que merece. Só para colher opiniões de quem as quiser dar.

(...)
Voltei à casa da Beatriz, no dia do seu funeral, e trouxe todos os barquinhos de fantasia do comandante Marques, receando que alguém, menos escrupuloso, os deitasse ao mar quando esse cá chegasse. – Tenho cada vez mais o sentido da propriedade pelas recordações dos outros, no caso particular de estas, fazerem algum sentido para mim. Foram coisas muito preciosas, e eu, inexplicavelmente preciso da sua proximidade física. - Alguns vinham dentro de garrafas, outros emoldurados em quadros, muitos eram só meros ornamentos de bibelô – esses deixei-os sem remorso - a maioria estavam em livros, ainda a navegar em boas histórias e esses, sobretudo, eram os que mais me interessavam.
Seria necessária uma equipa a funcionar vinte e quatro horas para impedir a selva de engolir cada detalhe dos Marques, das batalhas marítimas à decadência do crochet, do relógio desprovido de corda ao amor desarvorado. A natureza reclama o seu, pouco importa que seja aos vivos ou aos mortos. (...)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

...Poderia ser maior! Poderia ser um escritor, em vez deste blogue vagabundo que... foda-se!

  "On The Waterfront" 1954 - Elia Kazan

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou...