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ninguém sabe ao certo onde
procurar as estrelas
de quando em vez um de nós monta a cavalo
e vai
intoxicado de fracturas
andaimes e pagamentos por conta
comprar a garrafa que faz falta à festa
pagar com o branco dos dentes
e nunca mais alguém o vê
(são, quase sempre, os melhores de nós que se compadecem
com a sede dos outros)
é-nos confortável esta alma assim como
lata de sardinhas
acidez controlada e redor marítimo
comprovado pela plural sinfonia de anzóis
o que vai tomar senhor doutor?
estou indeciso entre uísque ou um batido de certezas
mas conquanto haja gelo
tudo nos enterra o nome pela goela abaixo
quem nunca engoliu uma ou outra piça
atire a primeira pedra
ninguém sabe ao certo como fazer pontaria
porque aprendemos a engolir de olhos cerrados
a beber, quer dizer,
das lâminas
por isso batemos palmas
enquanto os autojuízes declamam o nome dos ossos
ao jeito de corredores abandonados
por mero amianto de estimação
ninguém sabe ao certo como subir ao telhado
por isso inventámos o sentimento-
-telescópio
com lente pintada a negro
para não cegar
ninguém sabe ao certo como rir de tudo isto
ninguém sabe ao certo como rir
ninguém sabe ao certo como ir de tudo isto
por isso foi votada uma lei
para decretar gigantes
mas chumbou com os votos da esquerda ambidestra
e da direita amputada
e o mário, que andava há anos a treinar a maratona
a partir do fim, zangou-se com a política
de vil natalidade
ninguém sabe ao certo onde está o mário
porque as palmas ecoam tão alto
que não se ouve um coração
ninguém sabe ao certo como procurar dentro
e o medo do não-saber leva-nos a sair
sair apenas
sem agasalho para a inteligência
nem guarda-chuva para as ácidas grossas gotas
de incerteza
que nos pingam na alma
mas sabem a marinada de tomate ou azeite vegetal
e um dia destes
alguém nos enfia um dedo no cu
para dactilografar uma carta ao deserto
que foi visto pela última vez a vaguear na nossa própria
cabeça de linha branca
e nós brindaremos com champanhe francês
até que a rolha nos atinja
a santidade
em cheio no epicentro da procissão
ninguém sabe ao certo onde fica o cortejo
sabe ao certo onde fica a cortiça
ninguém sabe ao certo onde fica o corteché
onde fica o corte celestial
— nem sequer os sacramentais livros de aventuras
como o peter sem pan
a alice violada no país das maravilhas
ou a bíblia
ninguém sabe ao certo onde fica o córtex
e é por isso que os carteiros deviam ser muito mais
bem pagos que os médicos
está tudo a arder outra vez, a sede aperta
mais gelo, por favor
ninguém sabe ao certo a falta que faz
um rato
nos interstícios do cérebro
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...........................................................................(para o Mário David Campos)
Renato Filipe Cardoso,
inédito, 2017
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