Emile Durkhein, o grande e iminente sociólogo, psicólogo e filósofo, autor d'"O Suicídio", tão commumente alardeado como o "pai da ciência social moderna"; escreveu em tempos que: "só há suicídio se o acto de que a morte resulta tiver sido realizado pela vítima tendo em vista esse resultado." - Tanta descarada redundância bacoca afligiu-me por demais então, insípidos anos noventa, sendo eu um jovem incredulamente liberto de uma pacatez quase aldeã, justamente acabado de sair fresquinho da sua pequena terra insossa para outra, muito mais fervilhante de atrações intelectuais, sexuais e em geral desiguais da sua origem, onde tanta nova gente tão efervescente em comparação com a sua própria palidez gratuita de nascença, o despertavam.
Quanto mais não seja pelo facto de que tal insensatez tão disparatada ter sido proferida por alguém de tão grande monta cientifica ainda o fazer agora. Suponho que a desfaçatez dita ou escrita, nunca carrega em si qualquer prazo de validade.
Pois creio veementemente ser contra-natura afirmar tais despropósitos, mas, como não sou nenhum Durkhein que conte com algum nome ilustre, ficar-me-ei por aqui, no que a tal diga respeito.
Contudo, por trivial obrigação, fincou-se-me no crânio esta absurda redundância imbecil, pela mera obrigação de a ter lido e malogradamente encornado, por força de tentar ser um bom e regrado aluno, da cadeira do curso que ma exigia, devorando desse modo este "tomo" feito programa de disciplina, levado ao prelo, na sua 4ª edição pela Editorial Presença, corria o ano de 1987.
Todavia, nem tudo se enterra no antanho em que foi idealizado e posteriormente escrito. - Durkhein disse também que: "quando há guerras e revoluções, a depressão diminuí nas mesas gigantes de gente pequena, assim como também o próprio ímpeto do suicidío". - Isto já me fervilhou um ou dois espasmos mentais. - Que coisa tão boa de ser escrita.
Ora bem, a sermos justos com a nobre grandeza dos idos autores bem pensantes, será igualmente razoável não os julgarmos apenas pelas falhas ocasionais de brutalidade inglória. Há que separar ajuizadamente o convindo "trigo" do desgraçado "joio".
"Tudo reverte à revolta" - Disse ele. E realmente, existe qualquer coisa de poética beleza neste pequeno trecho ensaísta. - " As pessoas rebelam-se nestes momentos fundamentais da história. Só quando não o fazem, é que se suicidam."
E devo confessar-vos justamente agora, que, com mais de vinte anos em cima de empinanço em cima, se tornou impossível para mim, manter algum tipo de postura pseudo-intelectual pomposa. - Sim, a enorme proeza do seu texto só mesmo agora me atingiu em definitivo. A nulidade humana face à sua própria inadequação, não quer ser fraca, mas é. Todos nos sujeitamos, de tempos a tempos, vez por outra, a perdermos a capacidade da veemência revoltosa.
Imaginamo-nos sempre fortes e poderosos (são as raízes genéticas e ancestrais pré-históricas que a isso nos impelem) . Revoltados ou revoltosos desde a nascença. Gritarias e fúrias incessantes. Suicídio!
Quando na realidade se torna impossível sermos humanos de alguma forma mais ou menos graciosa. Alguns são como carneiros bem comportados. Carecem dessa mesma agressividade hereditária, porque a suprimiram nalguma lugar obscuro da fronteira que todos nos divide.
Mas o Durkhein não escreveu nenhum disparate, acreditem. - Se lhe acreditarmos somos cépticos malditos. Se duvidarmos, meros tolos.
Suicídio? Quem poderá saber se não seremos meros estorvos para quem nos quer por tudo. Puros, tão puros transeuntes de um caminho nem haveríamos de ter percorrido.
Suicídio? Porque não. Nem todos
Por cada novo ciclo Humano, fechado em si mesmo, nenhum se acharia em si mesmo, ou quanto muito em sua substituição. Queremos ser Sois e laivos de luz, é a outra parte de nós que persiste por inerência à vontade de persistir, ainda assim, na maior parte, somos dias inenarráveis, e, rais' me parta, o "suicídio" sabe tanto a solução que parece que andámos há anos a salvar Deus de si próprio.
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