... e nem me digam que chorar sal de Calimério ao ver um filme com o Hugh Grant e a Drew Barrymore, a cantarem isto, é coisa digna de algum "panilas" destroçado, ou de uma qualquer mulher violentamente descartada de alguma relação em que acreditava a pés juntos.
Não! Não é de todo. - Aliás, tomem lá cuidado com os estereótipos, porque ninguém sabe futuramente onde e por quem se poderá desfazer por completo, num instante fortuito do seu tempo "feliz" de vida.
Porque emocionalmente estamos todos atirados à mesma incerteza, ao inevitável desígnio de nos despirmos involuntariamente perante o que o resto da vida nos reserva. Somos desleixados por natureza nas razões lógicas face às emoções, que realmente nos controlam, e depois é isto; acabamos numa quarta-feira de manhã a chorar baba e ranho, perante um filme fundamentalmente medíocre, mas cheio de uma qualquer sonoridade misteriosa que nos coloca nesta posição de vulnerabilidade.
Muitas vezes, como esta, nem é sequer a incerteza sentimental do "amor" que nos arromba os sentidos. Em grande parte dos casos, como este, acaba por ser a predisposição ao acaso inexorável da vida, que se perdeu em inutilidades ou em más decisões, que nos entrega, de bandeja, a este estado inglório de falha crítica.
Em efeito, ao longo deste percurso, tornámos-nos gritos sem voz. GRITOS SEM VOZ! Gritámos e gritámos, interiormente apenas, e ninguém exterior nos escuta.
Sentimos que falhamos em algo e auto-destruímo-nos na busca dessa explicação tão óbvia.
Por vezes, ver e ouvir filmes assim poderia ser um apelo aos mais atentos. Mas, e se ninguém estiver atento? - Continua o processo de auto-destruição, seja pelo álcool, pela inação absoluta, por comer demasiado, por fumar até além do próprio vício. Pela auto-deturpação da saúde covarde. Faltando-nos a coragem para o suicídio limpo e eficaz, resta-nos a morte lenta da auto-destruição.
Torna-se num percurso anunciado, anunciado mas jamais concretizado. Querer a morte e não morrer de todo, incrementa-nos a sensação de frustração.
Lembra-me um outro filme superior; "Leaving Las Vegas" - "I'll tell you, right now... I'm in love with you. But, be that as it may, i am not here to force my twisted soul into your life. "
Pois não. Apaixonaram-se entre o caminho determinado à morte. Nada disto significa mais ou menos amor, apenas a difusão deste na relação que os une até ao fim desse caminho.
No fim de contas, procurando-o ou tendo-o já encontrado, o Amor nunca nos define realmente, apenas o que dele fazemos se torna na nossa vida final.
Se nos deparamos com alguém cujas frustrações forem tão determinadas no seu percurso de vida, e se nos apaixonarmos por essa criatura, o melhor mesmo será aceito-la e amá-la até ao seu fim, como a Elisabeth Shue fez com o Nicholas Cage. Como a Drew faz com o Hugh.
Falhar também pode ser uma opção num mundo emocionalmente imperfeito. E quem disser o contrário vai ter de se haver com uma realidade que afirma e afirma-nos constantemente a disparidade inaudita da perfeição.
Falhar também pode ser uma opção num mundo emocionalmente imperfeito. E quem disser o contrário vai ter de se haver com uma realidade que afirma e afirma-nos constantemente a disparidade inaudita da perfeição.
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