Adoro quando o meu País se levanta e mostra grandeza pura. Uma emergência de determinação inusitada que quase parece imprópria a um povo fadado à sua insignificância (assim nos querem ver e manter).
Todavia, de tempos a tempos, lá nos erguemos altivos, desse destino imposto. Amiúde, sofremos a morder lábios, em dor extrema, mas fazemos pouco caso ao que de nós dizem. Aligeiramos os estereótipos que nos querem impor à força de não termos grande poder para os contrariar, empurram-nos para baixo, e nós amiudámos a circunstância de cair humilhados, porque sabemos melhor, porque somos portugueses e temos cá dentro um plano secreto que os outros nem se importam em descobrir.
Mostrámos quem somos desde o útero. Porque no interior profundo, temos é carnes duras, maceradas a frio com tanto derrotismo continuado, e talvez seja essa a "fénix" que nos habita e faz explodir.
Arrumaram o Ronaldo a 7 minutos do jogo da Final em França (e logo um francês, não queiram lá ver.) - Houvesse sido um Alemão, Espanhol ou Inglês, a condução do discurso derradeiro quiçá se alterasse um pouco, contudo, o remate final da consumação de vitória seria igual. - Somos assim, bons rapazes e raparigas, e verdadeiramente mal nos faz diferença qual destes "monstros" subjugamos, logo que o façamos, liberta-se cá dentro uma enzima de felicidade, que perpassa toda uma Nação territorial, mas sobretudo aos expatriados, obrigados a deixarem o lar para continuarem a serem mais portugueses que os próprios portugueses que restaram na "jangada".
Chamam-lhes os "emigrantes", e por razões de terem saído daqui à força da necessidade, tornaram-se ainda mais patrióticos.
Isto acontece com quase todos os povos deslocados a outros países, conquanto, nenhum parece tão agregado à Pátria-Mãe quanto os nossos, aqueles que sofrem e pulam de alegria lá fora. Vencer, acresce-se de um infinito valor maior, para estes, que se entregaram linearmente à derrota. Não existem metáforas aqui. Os emigrantes sabiam ao que iam. Iam ao desbarato, e alguns singraram e se excederam, mas a maioria fez aquilo que só podia fazer, amouxou-se, foi português puro, amealhando, e esperando por melhores dias.
Pois, no dia 10 de Julho de 2016, em Paris, como em Amsterdão também, esse dia chegou.
É que já fomos sobranceiramente vexados por todos estes povos, e nem sequer me refiro ao jogo do Futebol (mas também.) - Tendo sido a França, soube melhor, provou-nos acima do estereótipo, a sobrevoar o pré-definido!
Isto levanta a pujança patriótica de um povo, quase tanto quanto o esbracejar insano da pá de uma desconhecida padeira ou a espada romba de um ex-pastor das alturas serranas.
Não o demonstro muitas vezes é certo, mas, é impossível ocultar o orgulho quando este é justificado.
Em muitos momentos da História perdida, erguemo-nos tão indefectíveis quanto aqueles atletas que nos deram um propósito de permanência no jogo inglório de altos e baixos das nações improváveis. Arrojados à perda, aceitamo-la e prosseguimos cabisbaixos, aguardando por tempos melhores. Foi nisto que nos especializamos; na aceitação da derrota com expectativas viradas ao triunfo futuro.
No Domingo passado tudo se conjugou numa tempestade perfeita a nosso favor (portugueses), e é destes lugares esporádicos no tempo, destes raros momentos de grandeza lusitana, de que todos nós nos alimentaremos por tempos vindouros.
Somos pequenos, dizem, um ínfimo rectângulo de terra arrumado no canto mais ocidental da Europa, como se alguém divino nos quisesse arrumar para o lado mais obscuro do continente; fiquem aí quietinhos e não chateiem o rumo grandioso dos demais. - Saramago descreveu-nos muito bem na "Jangada de Pedra" - "Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões.”
No entanto, a poeira primária do português não foi desenhada para se manter presa indeterminadamente num vento qualquer de fumo e desilusão. Há certamente uma centelha fulcral que nos resiste "ainda e sempre" ao desaire. Fundamentalmente, somos enormes sem nada esperarmos de nós próprios, e sabêmo-lo, o que ainda é mais grave, visto estarmos predestinados ao fracasso, acatamo-lo Porque tem de ser assim, alguém na história precisa de tomar o lugar dos derrotados para que outros possam brilhar para a eternidade. Não podemos ser todos gloriosos em instantes concatenates do tempo. O que nunca nos impedirá de vos surpreender quando assim acharmos pertinente.
Sobre as costas destes heróis de Domingo, talvez até me contrarie, como português puro que sou, e almeje sonhar com mais, com todas as grandezas futuras.
Afinal de contas, se já temos a derrota intrínseca, que temos mais nós a perder?
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Dulce Félix |
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Sara Moreira |
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Patricia Mamona |
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Jessica Augusto |
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Tsanko Arnaoudov |
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Selecção Nacional de Futebol 2016 |
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