24 livros com a incrível magia das palavras.
Gabriel Garcia Márquez, tornou-se para sempre o "meu" escritor. Enquanto crescia como pessoa, mais ou menos esclarecida, mais ou menos culta, sobretudo pateta, teria eu 16 ou 17 anos de mera tensa impedância, alternada entre a displicência natural da juventude, e a ambição rigorosa de algum percurso determinado, acabei por descobri-lo, graças ao Círculo de Leitores.
O primeiro livro dele que li, foi "O Outono do Patriarca". Arrebatou-me de imediato, pois, até então, graças ao cartão de sócio do Círculo do meu pai, o meu amor pelos livros vagueou promíscuo pelos grandes clássicos; dos Americanos aos Russos, passando pelos Franceses e até alguns Ingleses, todos consumidos com algum grau de arrojo incerto.
Ao terminar as leituras, de muitas destas obras que surpreendentemente Marquez aqui referencia, restava-me sempre a vontade irresistível de viver nalgum paraíso alheio. Contudo, nunca devotei nenhum particular apreço pelo estilo de fulano ou sicrano. Mal sabia eu que, após alguns poemas e contos insípidos que escrevera então, o novo livro-risco que incitara o meu pai a adquirir, me revolucionaria eternamente o próprio estilo na máquina de escrever do meu futuro.
Nos dias seguintes, não fui a lado nenhum, por medo de que a magia dispersasse a inveja que se refletia nas gotas de suor que cobriam o meu rosto. Muito daquilo que para mim era incompreensível em tudo que antes lera, agora se abria com toda a beleza e sinceridade da simplicidade.
Até que me atrevi a pensar que os prodígios realmente acontecem na vida comum dos mais simples, e impedir a sua imergência por conta da incredulidade e da covardia realista das gerações seguintes nunca seria tão verosímil.
Também por isso, me parecia impossível que alguém do meu tempo voltasse a acreditar que se podia voar sobre cidades e montanhas a bordo de uma esfera, ou que um escravo de Cartagena das Índias vivesse castigado durante 200 anos dentro de uma garrafa, a menos que o autor da história fosse capaz de fazer com que seus leitores o acreditassem. Márquez escrevia o que sabia de cor. E após várias segundas leituras, senti que ganhei o aspecto de alguém que descobriu o mundo. E que o mundo, afinal, era mágico e maravilhoso, desde que conseguisse escreve-lo dessa forma.
Também por isso, me parecia impossível que alguém do meu tempo voltasse a acreditar que se podia voar sobre cidades e montanhas a bordo de uma esfera, ou que um escravo de Cartagena das Índias vivesse castigado durante 200 anos dentro de uma garrafa, a menos que o autor da história fosse capaz de fazer com que seus leitores o acreditassem. Márquez escrevia o que sabia de cor. E após várias segundas leituras, senti que ganhei o aspecto de alguém que descobriu o mundo. E que o mundo, afinal, era mágico e maravilhoso, desde que conseguisse escreve-lo dessa forma.
Todo o resto do seu acervo que fiz por procurar e ler depois, não apenas me ajudou a descobrir um mundo próprio dentro de mim do qual nunca havia suspeitado, como também se edificou numa particular técnica impagável para a minha própria liberdade de linguagem, nomeadamente o manejo do tempo e as estruturas desconstruídas dos meus (parcos) livros subsequentes.
Márquez não me ensinou a escrever, foram sim alguns destes autores que ele, na sua lista faz referência, quem o conseguiram fazer, em grande parte pela minha insistência motivada em lê-los e tentar desvenda-los.
O que fez em especial, por mim quero dizer, foi mostrar-me o melhor caminho a seguir. E desde então, desse percurso, para o mal ou para o bem, não me tenho desviado um milímetro que seja.
Aqui segue a sua lista:
- «A Metamorfose», Franz Kafka.
- «A Montanha Mágica», Thomas Mann
- «O Homem da Máscara de Ferro», Alexandre Dumas
- «O Som e a Fúria», William Faulkner
- «Enquanto agonizo», William Faulkner
- «Palmeiras Selvagens», William Faulkner.
- «O Aleph» e outras obras de Jorge Luis Borges
- «O Velho e o Mar», Ernest Hemingway
- «Contraponto», Aldous Huxley
- «Édipo Rei», Sófocles.
- «A Casa dos Sete Telhados», Nathaniel Hawthorne.
- «A Cabana do Pai Tomás », Harriet Beecher Stowe
- «Moby Dick», Herman Melville
- «Filhos e Amantes», David Herbert Lawrence
- «As Mil e uma Noites».
- «Ratos e Homens», John Steinbeck
- «As Vinhas da Ira», John Steinbeck
- «A Estrada do Tabaco», Erskine Caldwell
- «Contos», Katherine Mansfield
- «Manhattan Transfer», John Dos Passos
- «Mrs. Dalloway», Virginia Woolf.
- «Orlando», Virginia Woolf
- «O Retrato de Jennie», Robert Nathan
- " Ulisses«, James Joyce
Nota do autor: Com 16 ou 17 anos, insisti em manter-me junto de alguns bons amigos e fazer o curso de Electrotecnia no liceu. Foi um erro que me custou caro, mas que me deixou boas memórias.
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