Avançar para o conteúdo principal

O meu pai em tempos quis chamar-me Reinaldo, mas depois, veio-se a ver, tinha bom gosto.


Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo... Moço tão bonito e brilhante que ascendeu da lama, qual lesma improvável, redobrado esforço intentaste e assim esforçaste muito trabalho de pés, cabeça e peito cheios de gana de ser o melhor. Claro que também muito labor aconteceu fora de cena, foste conduzido a iluminar meio mundo agarrado a um campo só teu, cheio de relva e suor, como uma veia empolada, que saltita excitada, a aguardar a próxima dose.  
Sim, és lindo e possante como um cavalo lusitano bem treinado, mas, quando é que deixas de ser o eterno protagonista e passas a ser o nosso silencioso herói?
Ou será que neste jardim não podem haver tais heróis?
Começo a acredita-lo.
Por um lado é extraordinário o que por vezes fazes. Ainda hoje o fizeste de calcanhar e de cabeça também. Caramba, que inspiração do caralho! - Por outro, consegues alienar tantas vezes os restantes patriotas, como os melhores arrombadores de espírito o sabem fazer, e depois é o comportamento tão boçal, Jesus, a costumeira "overdose" de ego inflado, o cabelo excruciantemente bem aparado e determinado nas bolas aéreas, e o teu ensaiado riso suspenso de intenções, implantado em titânio nas nossas possíveis esperanças de glória. - Porra miúdo, deixa de ir ao salão de bronzeamento durante os torneios da Selecção! Eu sei que és sempre o que fica até mais tarde a treinar, é isso que te eleva nos nossos corações...só que...
Ronaldo, Ronaldo, fazes sempre tudo tão incrível que nada menos que isso nos chega, mas acaba por não haver pica alguma meu rapaz!  O absurdo do teu brilhantismo parece só reservado à fonte avassaladora de antigas pesetas. Queremos portugueses heróis como nos tempos em que fomos os maiores. Traidor? - Não, não. Isso seria exagerado. - Ficamos em terceiro e marcaste em quatro fases finais de Europeus, mas ninguém te informou o que os espanhóis são, e que sempre foram os nossos inimigos figadais? - Quem diz espanhóis diz croatas. - Chiça! Só sorrisos misteriosos nos momentos mais impróprios. Tudo bem. - Há que haver gente para tudo e para todos. É certo que já mal suporto ouvir o teu nome, ou quiçá olhar para a tua cara nos jogos, nos anúncios então, prefiro nem mencionar aqui o constante reflexo de vómito. 
Porra miúdo, queremos é ganhar! Tu não queres ser o português que fez assim e assim, e por aí fora? - Contentas-te com a imagem e os restantes que nem gostam de futebol tem de aceitar-te como és? - Foda-se! - Perdoa-me o francês de marinheiro, mas a selecção é a minha única equipa, logo, sinto-me no pleno direito de dizer tudo o que me perturba.
Pois, até marcas-te dois golos (fantásticos) contra a Hungria, hoje mesmo, contudo rapaz capitão, se é que queres saber, sinto-me como o futuro pai que fez tudo o que devia mas não chegou sequer a ejacular no local devido.
Ah, queres que seja mais coloquial? - Sim, eu posso. isto é um blog pessoal, não é o "observador" onde deixam qualquer um escrever: Como adepto da Selecção estou decepcionado...pior, estou fodido mesmo!
Descansa rapaz! Este não é mais nenhum desses textos ambíguos que parecem arrasar-te e depois, vai-se a ver, é só elogios e abraços à distância. Não, sossega lá, não me atires o "blog" à água num gesto de impulso adolescente, sim? 
Sabes Ronaldo, sempre fui um tipo medíocre e invejoso, mesmo. Um mau indivíduo em todos os aspectos relevantes da humanidade exclusivamente lusa. 
O que queria mesmo era pensar pouco e chutar como um deus. Teria tudo perdoado e no fim até, me abraçariam como se lhes tivesse salvado o filho da perdição da toxicodependência. 
Adoro-te quase como se até fosses português. Por isso, vê lá se começas a ser o capitão que precisámos e põe essa Selecção a ganhar, sim!
Ah, só mais uma coisa; Vai-te foder sim?


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

...Poderia ser maior! Poderia ser um escritor, em vez deste blogue vagabundo que... foda-se!

  "On The Waterfront" 1954 - Elia Kazan

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou...