O fim da manhã deste último dia poderá ser só um quarto.
não vejo melhor forma de lhe contar os inevitáveis desencontros,
entre fazer as camas, dar de comer aos gatos e preparar o pudim de pão
para o jantar de logo mais, com desconhecidos de verdade,
a mesa inteira povoada de desconhecidos.
Alongada, não, redonda, não, oval... talvez (não).
O princípio de tarde deste dia será uma perfeita cidade.
As ruas molhadas, as belas donas de cães estranhos a passearem-nos
e nos canteiros públicos, indigente, entre tanta merda, a relva continua por aparar.
Ergo-me da periferia dos últimos dias demolidos,
e procuro a razão deste fim, entre as calças penduradas ao través
nos cabides desalentados, e as toalhas de banho que apanho do chão.
Chamo-te pela casa vazia como se rezasse ao nosso mar.
Serei sempre um homem rude, e estes acabam assim, destruídos.
Tu já deverias saber que só assim poderia acabar.
Deixas-me publicar este desconforto exposto em osso ao assédio social?
Meu Deus! Em que idade da nossa vida permitiste que me tornasse
um parasita assim, tão inexpressivo, tão igual?
O principio da noite deste nosso dia é um país.
Ocorreu-me que preciso das coxas para o arroz, da banha e do Alentejo.
Há aqui um interlúdio qualquer. A necessária revolta da passagem do dinheiro
de mão em mão.
O pudim coze em banho-maria, os gatos dormem, cada um no seu mundo magistral
e as camas estão tão sossegadas, que até assustam.
Fala, peço-te! Diz!
Não terei já cumprido todos os meus castigos?
Digo-te mais isto: nenhum perdão, nenhum, nenhum perdão!
Voam ténues desperdícios no ar silente lá de fora.
Preciso também de botões de cravinho e de esquecer que hoje é sexta-feira.
Não me parece existir outra maneira,
de aceitar este inevitável agora.
O fim da noite deste dia maldito é um continente.
Tudo fingido a parecer serem nuvens passageiras.
Já nem no fogão tenho fogo. É tudo electricidade inexplicável.
Escapa-me a ascensão do membro que não mente.
Iludo-me por acreditar que é no bar que a existência se torna viável.
Bolas! Falta-me engomar a boa toalha de mesa.
A pior hipocrisia de todas é a vontade de agradar ao desconhecido.
Dêem-me alguma crença melhor que esta para acreditar
de olhos fechados.
Dêem-me o castigo merecido,
mas não trocem mais com os meus sorrisos encenados.
O princípio do próximo dia a seguir a este último dia é um Hemisfério.
A loiça acumulada na banca, e os restos de...
Meu Deus, os restos! A cozinha inteira fede a mau discernimento,
como se se pudesse lavar convenientemente o esquecimento!
Obrigado pela existência, mas para mim já chega.
Todo este dia final, foi algo que nunca quis.
Agora, vou dormir e esperar pela eternidade distante.
Ficaram três coxas a boiarem num mar de arroz aglomerado
dentro de um Tupperware de Take-Away.
Poderás come-las amanhã, e continuares a ser feliz.
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