Foi um erro ter aprendido as palavras.
Renuncio-as todas agora,
por ser já incapaz de as desaprender.
Disponho-me a viver o que me resta,
num mundo fictício,
onde nada, jamais, signifique o que me apetece dizer.
Faço esta promessa modesta,
até que por fim,
as mais belas palavras de todas, se juntem,
e jurem alguma engenhosa e feroz vingança,
contra mim.
Deixem-me aqui no fundo desta alucinação,
tenho esta minha loucura indelével,
que já nem suporto.
É como se caminhasse vendado,
sem esperança de digna execução.
Já não me importo,
se os mais quietos sentidos de todos,
me tolherem, ferirem, me fizerem sangrar.
Também não me farão diferença
as lágrimas de olhos mais rudes que os de uma criança.
Temo apenas o erro que me fez começar.
E é uma maravilhosa justiça que o final a mim me pertença.
A tragédia que me escorre de tão medíocre língua,
é onde mereço acabar.
Entrego-me a ela, simplesmente, ansioso por ficar invisível,
depressa, depressa, depressa...
quanto mais cedo possível,
antes que me esqueça,
da minha modesta promessa.
Em concordância ficarei, inerte certamente,
só então,
face à derradeira luz do último pôr-do-sol
da minha proibida Terra.
Entenderei o quanto esta minha língua mente.
Comigo levarei a cicatriz, somente,
no invólucro selado da minha escuridão.
Nunca haveria de ter aprendido palavras,
se não quisesse acabar aqui,
inquieto.
Hei-de ter existido algures,
sem saber falar ou escrever,
nalgum distante espaço discreto,
fora da fúria da minha própria guerra.
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