Como em muitos outros dias forçosamente celebratórios, o da mulher, deixa-me naturalmente apreensivo; senão vejam, o sofrimento, deveria aqui pesar alguma coisa fora de qualquer tabela periódica geracional, deveria ter o seu específico peso, como um mineral o tem, ainda que posto inexistente na tabela de dias excelsos por serem apenas dedicados, em vez de serem transladados ao ano inteiro, como a felicidade havia.
Sofro da má condição de não ser mulher! - Não é nenhum trauma que me conduza à cirurgia extrema, é somente uma constatação sediada na minha adulação por estas. Em cada dia dos meus anos só me apetece abrir uma prenda, e é sempre a mesma, a dela.
Isto não tem graça nenhuma e eu recomendaria que lesses outra coisa qualquer. Tomem um banho quente e leiam Anais Nin: "Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos." - É verdade. - Ide por aí a amontoar flores num cesto vazio no meio de um matagal e vereis a condição exacta dos Homens. Que absurdo género! E nem sou misógino, o que acontece é que quando se abrem os olhos, vêem-se os sentidos das letras das canções e dos poetas de Facebook. - Acontece que se vêem as mulheres fora das linhas do corpo torneado.
Porra!
Tive uma Mãe, tenho uma Mulher, tenho uma Irmã, tenho Amigas. Sou uma parte melhor do Homem que nunca haveria de ser, atirado às exclusivas hormonas dos homens, por este contacto.
Se não for isto a celebração deste dia, deixem de ler este texto!
Não entendo exactamente porque nestes dias se vai, quase exclusivamente, buscar as noções das primeiras sufragistas, das primordiais anarquistas, em suma, das grandes purgas unitárias à condição pré-estabelecida por milénios à mulher. - Basicamente, no dia Internacional da Mulher, celebram-se conflitos longos. A profunda guerra dos sexos pelo tempo incontável.
Outro grande disparate. Quase tão monumental como o de se ser Homem.
A mulher não é nenhuma revolução, é o epíteto da filosofia democrática. Compromete-se para existir melhor, entrega-se à diária catarse feminina, ciente da sua força quase absoluta. Ainda que carregada de todas as idiossincrasias do género, melhora e constrói. A mulher labuta e nunca se compraz ou adorna compaixão oposta, só porque sim. Nunca faz greve sentada, nem se compadece por favor. Nem nunca, nunca realmente se resigna. - Manifestações e marchas, são o seu dia-a-dia, mesmo que quase sem qualquer impacto político num mundo construído fálico, avançam em pé-coxinho e ainda assim dão passos, de saltos altos, maiores que a crassa ideia de poder dos seus contra-postos.
A minha mãe, uma vez, saiu de casa, por causa de um bife duro, ou porque por fim lhe afrontou definitivamente, as normais incoerências masculinas do meu pai, que, por ser homem, nascido nos anos 30, criado nos 40 e 50 do século passado, era o Homem que muitos, ainda hoje, pensam ser exemplo do género. Mas não, não são! - Este tempo de rígidas cartilagens, durou um, dois dias, mas colocou em evidência a dependência do meu pai pela mulher. Pois esses eram os seus verdadeiros dias, e ainda hoje o são. - E não apenas por algum evento ocorrido no início do século passado.
Neste 8 de Março de 2016, o meu pai, ainda se arrepia pela falta exemplar que a companheira lhe manca, 11 anos depois da sua morte. A mulher faz-lhe mais falta que a vida.
E, a mulher não existe para nos colocar (homens) em evidência, para nos contrapôr, servir, dar prazer, deixar prole, grunhir... face à fraca evidência de algum ser divino que nos edificou, admito que, a mulher foi criada sim, para nos conduzir a algum melhor lugar, a algum melhor sentido de crescimento como espécie. E por fim, ainda nos fez e faz companhia nesse crescimento.
Todos os meus dias são dela! - Mas por favor, não digam nada disto à minha mulher, peço-vos.
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