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Só.


Para quê existir além da presença?
Nunca seremos capazes de estar em lado algum. Como se pudéssemos nós ser árvores perenes, carregadinhos de folhas caducas. Mas, tentámos na mesma. Tentámos?
É extraordinário ser humano fora de toda a humanidade. Já tentaram? - Parece que se ganha uma braçada de novos sentidos físicos em acréscimo àqueles que já nos consistem; Visão, tacto, audição etc... razões sobejas de existências banais! Sensibilizar o sentido da solidão, por exemplo, é uma experiência quase de catarse, um pulo de bravura insensata que apraz. Potenciar a modorra numa espiral, mais e mais, até se alcançar o topo da monotonia e descobrir novidades desconhecidas.
É preciso determinação contudo. A mortalidade absoluta deste objectivo ocorre no instante da tentação normal dos dias. O corte radical das relações mais íntimas é imprescindível. O boicote, a pura dedicação ao acérrimo desgosto de tudo e por todos, condição inequívoca.
Para quê existir e depois voltar atrás no pior momento?
Nunca seremos capazes de estar com ninguém. Somos "macacos" filósofos que não encontram outra razão para o sexo que não seja absolutamente essa.
Como se pudéssemos excluir o prazer de nós mesmos sem hipocrisias ou racionalizações descabidas. Dizer: "Amor" em vez de "Sodomia experimental" ou "Zoofilia", ou seja o que for mais interessante no momento do interesse em questão.
Quero mais, e tenho trabalhado arduamente para tal. A minha auto-exclusão vem sendo bem sucedida. Não se trata de culpabilizar ninguém que racionalmente já me excluiu. Trata-se sim, de excluir todos e nem sentir culpa no processo. Libertação absoluta, quer do que já se tornou absurdo nas ridículas relações sociais de agora, como também, das próprias associações "antigas", do tempo em que a amizade, - salvo seja - ainda parecia igual ao seu próprio real sentido. Corte! - Atingi já parte da objectivação da minha existência. A doce nulidade ante-venho-a num próximo horizonte, como uma costa brilhante, de exuberante prateado, onde acabarei perfeito, ou só.

Ah!

Para quê tentar o impossível da tentativa, quando todas as probabilidades jogam fora da nossa existência? - Ao sermos criaturas humanas, somos por regra múltiplos, o que significa que a solidão exceptua-nos. Mas, não quero mais isso. Não quero ser mais um jogador. Quero perder! E perco, e perdi tantas vezes, que perder se tornou o meu mantra. Onde tantos intentam o jogo mais obsceno da vitória, eu venço na demanda das minhas mais belas derrotas. Excedi-me, agora sorrio mais vezes. Perder é um Sol tão quente quando o calor é só nosso. - Não conheço mais ninguém que se esforce tanto para acabar derrotado. E isto, é o melhor que consigo fazer sozinho, sem a ajuda de ninguém.
De outro modo, o esforço haveria de ser desmesurado.

Ah!

É que ninguém existe melhor neste mundo sem o auxílio de outrem. Juntos, somos tantos e tão sozinhos. Solitários somos únicos.


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