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David Duarte poderia ser um mito.


Vou sempre escutando, devagarinho, (e é sem pressas que a insídia se instala)
o mesmo ruído de morte que nos rói e nos persiste,
como um coração que foi tragado pelo nevoeiro.
A porta imponente da Igreja matriz, seus santos solitários, em seus nichos mal cuidados. 
As ruas, luminosas e sonoras, repletas de lajes soerguidas pelos esforços inglórios,
contra tão grande força. Tanto esforço derradeiro.
Morre-se por tudo e por nada neste país inteiro.
Os muros. Os muros invisíveis de castelos derrocados, postos no presente.
Caminhos que nada edificam. Paredes que a nada conduzem.
Morre-se por tudo e por nada neste país onde sempre nos desiludem.
Tudo isto sobre um tom uniforme e denegrido pelas sombras do costume. 
A gente tornou-se humidade, entranhamo-nos na má consolação das festas
e, pouca mossa fazemos à pedra eterna. Ao tempo que nem passou.
Não se lhes dá a ideia de morrerem,
contanto lhes prometam Verões de infinito; promessas e promessas de futuro.
E não será o futuro uma criança que já acabou?

Reflictam sobre a "coisa" do Natal e não sobre o Natal. 
O natal é criação, nunca o amasso embrulhado dos papeis. 
Mas Eis,
Eis que vos azedareis lentamente sobre essa mesma premissa,
como eu o fiz por exactidão da inveja, ou do medo, ou da preguiça, ou...
ou da frustração sempre presente.
É que se morre por tudo e por nada neste país demente.
Para muitos, a vida consiste em embeberem-se, encolhidos e transidos, no sonho. 
Meses inteiros sem palavras até Dezembro, quando tudo parece uma aberta.
Ou um abraço morto que nunca ninguém partilhou.
Cada vez vejo tudo mais turvo. Cada vez tenho mais medo.
Ninguém me lê. Ninguém sabe ler nada que não seja incutido por outra multidão diferente do medo, diferente do medo que "eu" sinto.
Ah! O Natal, assim lido.
E ainda assim se morre, por tudo e por nada, neste país merecido.
Mexeis as asas e pulais para cima e para baixo do pulmão de aço dos vossos receios mais profundos. O espírito - ao contrário do que vos dizem - o espírito é exterior.
Jamais será tido. Jamais serei por vós envolvido.
Alberga e cobre o vil corpo, como se este nada fosse.
Assim como se nós fossemos estrelas de anunciação,
e as estrelas que nos anunciam, fossem um mistério divino qualquer.
Morre-se por tudo e por nada neste país de mal-me-quer.

Saibam também sobre a morte das estrelas distantes,
e sobre o perdão final aos mais entrincheirados.
Assim como se nós fossemos vagas de maus agoiros,
e mitos de varões jovens e infecundos.
Capazes de amortecer a dor.
Nesse ridículo hábito de jogar aos dias futuros como se fossem ópio.
Morre-se por tudo e por nada neste país tão impróprio,
para se viver.



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