Advirto-vos
já, antes de o começarem a ler, que este é um texto cheio de raiva e rancor.
Certas
pessoas dizem que alguns escritores não sabem escrever uma linha que valha a
pena ser lida, nem na areia da praia, ou sentados no trono da cagadeira, nem
deveriam ser assim chamados sequer. Não passam de fancaria sem carisma
literário, deslizando incólumes pela baliza da crítica, e avolumando-se
gigantes, junto do público mais néscio, entenda-se que é aquele que compra, e
não aquele que lê.
Não
digo nomes de ambos os lados, porque é feio apontar seja para que lado for.
Ainda
que a inveja esteja omnipresente por todos, por mim inclusive, há um claro
nepotismo no negócio da literatura, como existe também no cinema, nas artes
plásticas, no teatro, até mesmo, meu deus, nas novelas televisivas.
A
furiosa velocidade destes dias, pouco admite sobre a emergência dos ansiosos. A
galopante necessidade das vendas é tudo quanto obriga às classificações das
tabelas e aos pontos falhados dos críticos na imprensa.
Tomemos
a questão dos festivais literários; nunca tantos se viram emergir em tão curto
espaço de tempo. Não servem tanto para se promover livros, ou a literatura em
geral, mais se empregam na elevação de certos autores, que necessitam de ser
democratizados pelas suas casas editoras, garantindo o sucesso futuro dos
mesmos, e das suas vendas, pois claro.
Há
excepções, sim. Como as há em quase tudo. Nenhuma regra estaria completa sem as
haver. Mas, quem convida os escritores a estes certames? Quem os coloca no
sítio certo na altura certa, independentemente da qualidade do seu trabalho?
Vou
dizer um nome, arrisco-me, mas pouco me importa, depois de tudo o que já disse
em cima não me esperam dias de boas perspectivas no “establishment”: Vi e ouvi uma vez o Júlio Magalhães, numa mesa das
Correntes D’Escritas e pensei cá comigo: “Ao que isto chegou!” – Todavia, após
ouvi-lo falar notei o seu desconforto face ao resto do painel daquela mesa, e
senti quase pena daquele homem, que se defendia o melhor que podia dos olhos
trocistas dos “verdadeiros” escritores ali presentes.
Mais
questões me surgiam à flor da pele. Por exemplo, a mais óbvia de todas: Porque
estaria ali o Júlio Magalhães? – Tinha um livro nas bancas a vender imenso, e
também era Ex-director de informação da TVI, e editor e pivot dos
telejornais da estação ao fim-de-semana, sendo naquela altura Director-Geral do
Porto Canal.
Seria
este um daqueles ostracizados pelos “esclarecidos”, dogmáticos do poder
literário? Um farsante a fazer-se passar por escritor numa excelsa mesa do
maior certame literário da Península Ibérica?
Os
outros, túrgidos pela admoestação habitual do marketing, alguns deles de grande
craveira e melhor até, de grande talento, não ousariam soltar nenhum gás
venenoso na sua direcção ali em público, mas eram as expressões que os traíam.
Quem já soube alguma vez reconhecer um olhar pernicioso de desdém no rosto de
outrem, saberia ver o que ali se passava; O Júlio era o “duque” de um naipe de “ases”, e até dizem
ser muito boa pessoa, não queiram lá ver.
Depois
disto dito, continuo a querer ser escritor, e a querer vender-me ao sistema
estabelecido, sim. A sobrevivência assim o exige, na instância onde a
expressão: “se não os podes vencer, une-te a eles.” Impera. – A verdade é que
poderia muito bem ser escritor apesar disto. Não preciso dos sábios ou dos
críticos, ou dos outros escritores para poder ser um, só preciso de escrever e
escrever e escrever.
Contudo,
existe algo de que preciso para me sentir realizado como escritor, o que difere
imenso de ser apenas escritor; os leitores.
Convenhamos,
a grande maioria nem procura, espera que lhes ensinem a ler “as pessoas
certas”, os “bons escritores”, e tudo deriva da monstruosa máquina de marketing
explicada atrás.
O
meu último livro “Corre!”, não vendeu um único exemplar desde a última vez que
o apresentei em público. – Inveja, dir-me-ão? Raiva? Ódio? Talvez! A explicação
deve-se ao facto de ter um bom editor, de uma editora unipessoal que não dispõe
de possibilidades para se debruçar na sobre-exposição de um livro em
particular, dentre as centenas que publica, porque precisa de publicar para
sobreviver, e por muito que acredite em determinado autor, desde que nenhum
fenómeno social o sobre-exponha ao grande público além das suas próprias
possibilidades, nada mais pode concretizar.
Inclusive,
vou mais além na defesa do meu editor, para que não o coloquem no mesmo saco
dos arrivistas de nichos ultramodernos, daqueles mesmos ignóbeis editores que exigem
dinheiro aos “ansiosos” e param na estação do prelo. Não.
É
esta a grande tragédia dos “ansiosos”. A minha, vá! – Os “sábios” irão proferir
de boca cheia: “Se não estás onde queres, é porque não tens o que é preciso
para lá estares.” – Os “sábios” sabem, e dizem-no amiúde, a quem consideram
digno de receber duas ou três palavras da sua sabedoria. – Eu nunca as ouvi.
Estou tão por baixo nesta hierarquia nepotista que nem sou considerado para
análise.
Mas
enfim, avisei-vos no início deste texto, que haveria destilação de raiva e
rancor, se o leram até aqui, talvez também tenham algum “ansiedade” própria a
correr-vos nas veias, e se sintam afim com tudo o que aqui disse. Se assim for,
comentem, vá. Vamo-nos conhecer, que sozinhos somos ainda menos que o nada que
nos querem fazer ser.
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