Avançar para o conteúdo principal

Às Coisas Vividas...


...por Helder Sanhudo!
De ontem até 25 de Outubro, Casa das Artes, no Porto.
Não deixem de passar por lá.


Às Coisas Vividas” é mais que uma retrospectiva do trabalho artístico mais recente de Helder Sanhudo, é uma mostra emotiva de revisitação, uma aventura para não deixar esquecido o constante desafio da tela em branco. Vincar, solta e viva a sua presença como elemento criativo de recordações pictóricas que permanecem, alavancando a criação de futuras memórias.
Todas as saudades de um tempo em que viveu outras vidas, conheceu novas histórias e mundos, e as definiu debutantes, no seu trabalho.
Há um caminho possível para introduzir o nosso olhar nesta mostra. Penso em álbuns de recortes, em diários, acumulações de fragmentos ou objetos nostálgicos; uma ideia de melancolia que percorre a selecção aqui exposta, como se coleccionassemos compulsivamente com os olhos, as linhas condutoras que se atravessam de um quadro para o outro, imaginando com a nossa intuição as relações entre todos.
Até que, progressivamente, nos vamos tomando conta, compondo essa caligrafia intimista do Helder, um mosaico feito de lembranças delicadas das suas coisas passadas.
Do desenho mais simplista às impressões que nascem de um tratamento intenso da cor e da forma, processo que o artista vem gradativamente depurando, até aos seus últimos retratos, figuras mascaradas que se tornam vultos, sombras coloridas e silenciosas, solenes todavia, devolvendo a sensibilidade ao traço, ilustrando assim, significativamente, o nome da exposição: “Às Coisas Vividas” pede-se tranquilidade, para se absorver em silêncio o que ficou para trás, mas pede-se sobretudo mais, vontade de vir a descobrir o que a vida futura do Helder nos reservará.

in Folha de sala da exposição de Helder Sanhudo "Às Coisas Vividas"
Miro Teixeira
Setembro de 2015

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012