Avançar para o conteúdo principal

Para o único Helder que nunca conheci.


Mergulhar em todas as bocas, que horror! Por vezes estão tão sujas que só me conspurcam de nulidade, é o fim, acreditem! É este o fim!
Estão mortos, todos. 
E ninguém salva nenhuma criança afogada da abertura fatal de nenhuma retrete.
Debaixo de alguma barba explodem eternidades que ninguém percebe por inteiro. Dois ou três fizeram um esforço, mas no derradeiro, no derradeiro momento desta existência, quem sabe ao certo o que nunca foi dito por palavras escritas?
Os bons vivos morrerão assim mesmo, vivos, à espera da morte que os tornará vivos, para sempre.
Rompendo todas as gargantas ignóbeis, que aguardam com os pulmões postos em punhos,

com os olhos postos em entrevistas invasoras, com os corações esfaqueados pelo agora, os corpos esfacelados pela imagem, as palavras vendidas num nada.
Resgatemos estes vivos dos cádaveres antecipados. Resgatemo-los do vírus da existência só terrena deste mundo moderno.
Sim, o resgate também é possível para os vivos, ainda que estes nem o queiram. Ainda que estes só vivam para existir no que fazem. Todas as palavras escritas têm um direito universal; alguém as escreveu por acaso ou não. Alguém fez por decidir que ali estaria o futuro daquilo que foi em todos a negação afirmativa de existir.

Mas, alguém ali existiu sim, para sempre.
Esses nem quererão estar vivos quando descobrirem a ponta afiada de medo da história real desta vida de agora. Para quê?
Eles já sabem! Eles já se escondem desses latidos todos, desses arrastos de fama, onde tudo está tão frio, que nem lhes apetece jantar. que lhes passa toda a fome numa só voz invisível.
Ontem à noite comi as minhas próprias palavras e bebi do meu próprio sangue.
Fiquei satisfeito. Que mais preciso? Deixo o resto da existência para depois. O agora, soube-me bem.
O futuro nunca me interessou.


Miro Teixeira
2015

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '