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"Máscaras com Rostos dentro" - Helder Sanhudo


Foto tirada durante a montagem da exposição (peço desculpa mas não sei o nome da sua autora)

Inaugurou neste último sábado, no Centro de Memória, em Vila do Conde a exposição "Máscaras com Rostos dentro" do Arquitecto vila-condense e meu bom amigo, Helder Sanhudo. 
Mais uma vez, pela terceira quase consecutiva, foi meu grande prazer poder me associar à sua rápida e merecida maturidade e ascenção como pintor, cujo progresso e divulgação ainda fará correr muita tinta por quem, muito melhor do que eu, consiga escrever sobre este mote das artes plásticas.
Ainda assim, tive a honra de oferecer os meus préstimos, escrevendo no livro de sala, os meus dois dedos de modesta apreciação sobre o seu vibrante trabalho, que poderão consultar após devida visita à referida exposição. Recordo que a mesma estará patente até ao dia 3 de Maio e que as visitas aos Domingos de manhã, são gratuitas.
Em simultâneo, e aquando da sua abertura, fui também convidado para dizer algumas palavrinhas alusivas ao autor e/ou à exposição em si, num curto discurso muito nervoso e atrapalhado, do qual transcrevo alguns excertos aqui por baixo:

(...) O Helder já fez o suficiente por estes quadros, pintou-os e o seu nome começa e acaba em cada um deles, sendo que a verdade absoluta do que ali está exposto, é exclusivamente sua.
Sobre isto teria ficado tudo dito, não fosse a razão da génese da liberdade artística, de qualquer forma de arte, que começa solitária nas mentes dos seus autores, vir a estar depois, sempre associada ao despojar de uma necessidade de mostra universal. O artista, o autor, trabalha dentro de si mesmo, por vezes penosamente, com grandes dificuldades mas o resultado final deseja sempre ofertá-lo aos olhos, aos ouvidos, ao toque de um grande público.
E ali está, para que todos a possam apreciar e assumirem também dentro de vós próprios a gama de possíveis emoções que a pintura do Helder é capaz de transmitir, individualmente, cada olhar faz os seus juízos, vive o momento, abarca o grande plano geral junto com as suas próprias ideias e crenças. Esta é, suponho, a sublime experiência da apreciação artística. Começa solitária e assim termina. (...)
(...) A amizade. A amizade foi o que me colocou hoje aqui, perante vós, a falar. A amizade e não os meus conhecimentos sobre arte. – Logo eu, que desenho circunferências como se fossem ovos estragados. Claro que acredito nos meus amigos e em tudo aquilo, seja lá o que for, que  estes abracem e desenvolvam. A grande virtude da amizade nunca é a da mão estendida ou o sorriso piedoso, mas a grande glória que advem da descoberta de alguém que nos acredita e confia. (...)
(...)Chegou a haver alturas em que me senti até um pouco apreensivo com o que o via fazer. Pensava: este fulano é perigoso, ele acredita mesmo no que faz. E a verdade é o melhor disfarce de todos, ninguém parece acreditá-la até não ser mais possível pô-la em causa. Todos queremos sentir que no mundo existem outros que também sentem e que compreendem os nossos vazios, ou as nossas falsas plenitudes. Pois essas são as nossas verdades fundamentais.
É por isto que eu acredito na arte do Helder, é fundamentalmente verdadeira.



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