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Let's Dance


Eram três amigos. Se fossem dois apenas, ainda que a caminho de um terceiro, a rivalidade destruiria tudo, se fossem mais, tornar-se-iam em mais uma tribo redutiva, diminuta em gente, mas cheia de ideias próprias e originalidades modernas, só próprias às pequenas tribos. Ninguém pensa em copos meio-cheios ou meio-vazios numa tribo. Todas as tribos se juntam na premissa tirânica de um dogma muito comummente característico.
Pomos isto de lado por agora. Eram três amigos, e por si só, multiplicavam-se sem querer numa multidão; o primeiro receava tudo. Tinha medo dos grupos, tinha medo dos compromissos, da avareza dos grupos. Como queria ser único, nunca aceitaria essa dinâmica, mas fingia aceita-la, para o bem comum fingido do grupo. Só queria ser aceite, mesmo que admitisse não querer ser aceite nessas condições. Era um case-study da amizade, se alguma vez algum pudesse ser assim considerado.
O segundo era um monólito. Defina-se monólito como aqueles seres de pedra que se dizem sanguíneos, mas não o são, de todo. São duros de emoções, irredutíveis. São aqueles tipos que nos fodem na primeira oportunidade, grupos ou não grupos, tribos ou não tribos. Os falsos sanguíneos têm uma crosta dura a revesti-los, fruto de muita pancada que apanharam, e não a revelam nunca, com medo de apanharem mais.
Por fim o terceiro, O terceiro é um niilista, que desaparece atrás da pedra e do medo. Como em nada acredita. nada o perfura ou amedronta. Vagueia pela interação da amizade, como o vento vagueia pelas dunas da praia. Tem o seu claro efeito, mas ninguém lhe atribui nada em concreto. é como um fantasma que se apropia das características dos outros, o mais desgraçado dos seres humanos.
E aqui temos a amizade! - Ninguém é intervencionista, amanhã é sexta-feira e a leste da tribo só se consideram as células mais primitivas. A amizade real está morta!
Sempre a recuarem, os três amigos apercebem-se de que tudo tem um fim extremo, e não gostam de se sentirem finalizados, debatem-se em meios-grupos, em meias-tribos de acaso. E todos os acasos são matemática, ninguém pensa em meios-copos vazios ou meios-copos cheios na assumpção pura das matemáticas, é tudo demasiado exacto, demasiado feito de memórias abertas. Eram três amigos, até se julgarem uns aos outros.

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