No total, são onze, dos mais vitais artistas urbanos, por esse mundo fora. Deste nosso rectângulo desconchavado, temos o Alexandre Farto, o artista também conhecido como Vhils, ( eu se fosse ele, lamberia eternamente o chão que os U2 pisam. Mas isto sou eu, que muita gente erradamente considera um lambe-botas sem ética...) que também contribui, e muito bem, para uma colecção visionária de filmes (vídeos), cada um deles inspirado numa faixa do novo album dos U2: "Songs of Innocence".
Atirando-se de unhas e dentes aos murais políticos da Irlanda do Norte, como ponto de referência, e escolhidos a dedo pela sua habilidade na captura das imaginações das suas próprias audiências, a estes artistas, foi concedida total liberdade creativa (coisa rara em tempos ditos globais, mas sempre de mentalidade tacanha, quase hegemónica - são sempre os mesmos que vingam.) para apresentarem as suas próprias respostas à música dos U2, numa série de pequenos filmes, alguns em parte animados, em parte de acção real.
Os "Films of Innocence" resgatam (salvo seja) estes artistas, e o seu trabalho, das ruas, para o ecrã, seja lá em que formato for, elevando-os ao nível do mundo inteiro, enquanto brincam com o tempo, tecendo pequenas histórias criativas entre a mais dura realidade e as paisagens animadas. O resultado final, é um visual essencial que chega a desafiar, ou talvez quem sabe, até a contrapôr, a verdadeira essência do album.
É de apreciar, sobretudo, o total desprendimento de ingerência de quem encomenda, a quem cria. Ou, se me quiserem seguir o racíocinio, estes tipos, tão grandes e fabulosos que são, apostam às cegas em quem acham dignos de uma oportunidade, e não apenas em quem já as tem de sobra.
Isto toca-me bem fundo.
Hão de convir que, para uma banda extra-super-hiper galáctica como são os U2, será sempre precisa alguma dose de "tomates duros e negros" envolvidos na decisão que este conceito acarreta. - Cá por mim, acho simplesmente perfeito, e de uma originalidade ímpar. - Como fã inveterado, e de muitos anos, desta banda, e mesmo que já nem lhes reconheça a qualidade musical de outros tempos, não consigo lhes ficar indiferente, estão me entranhados no crescimento, como quando ouvi pela primeira vez os albuns: "October - 1981", "The Unforgettable Fire - 1984", "The Joshua Tree - 1987" ou "Achtung baby - 1991", e estas coisas, reconheço, não têm razão nenhuma para pedirem cura. A fidelidade segue até ao fim, por mera entrega, e, por isso, só me posso rejubilar com mais esta atitude destes quatro senhores.
Infelizmente, pelos tradicionais motivos do vil metal (andámos todos ao mesmo, certo?) não vos posso deixar aqui, pendurada, a versão muito boa do filme que o Vhils fez para esta música maravilhosa, "Raised by Wolves", mas, enfim, deixo-vos um vídeo livre do Youtube, feito certamente, por algum fã tão inveterado quanto eu, e espero que a apreciem. É uma música triste, mesmo desencantada, mas tem ainda assim uma boa mensagem de esperança, e vale a pena ouvir, nem que seja só por isso.
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