Quando o dia começa o aqueduto está quieto e as águas do orvalho paradas. É
raro que alguma brisa venha bulir nas folhas dos pequenos ciprestes enfezados.
Armam-se, com vagar, as cadeirinhas da esplanada, cheias de esperança. Algum escasso pássaro
boceja lá no alto das pedras centenárias, onde as nuvens lentamente se encastelam. O trânsito passa
sem ruído, lento e mudo. Um cão pontual, sem trela, defeca na relva
húmida, enquanto a dona desperta, a boca escondida entre as mãos. Afasto-me da janela.
Recolho-me e recordo a hora quase clara em que os meus olhos se
espantam por ver o primeiro sorriso do dia.
Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...
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