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Escrita criativa vista por olhos hipster


Isto de nos pormos a escrever e esperar resultados, é como vir para aqui render elogios descarados aos dignos tomates do meu avô; ainda que não tenha as minhas certezas sobre que prazer poderia a minha querida avó deles ter tirado, sou-lhes ainda assim, quase tão grato pela existência, quanto sou pelos do meu pai.
Talvez tudo passe a valer a pena depois de se peneirar a vida no coador que pressupõe todas as questões sem dizer frontalmente as coisas, até que estas se tornem realidades evidentes. É capaz. Eu não sei exactamente como isto se processa, pois sou carente e necessitado da queixa como o mais próximo de mim também o é.
Pornografias geriátricas à parte, a verdade é que, ninguém nunca bem se toca onde faz doer, quando se trata de receber críticas acerca daquilo que escreve. - Quase nunca se encontra o debate, a picardia ou a inteligente discussão. Só nos tornamos afectos ao determinismo desconstrutivo, à crítica pela crítica, ao "trocas o à pelo há", que pouco ou nada nos informa sobre aquilo que queremos saber: Escrevemos ou não escrevemos bem?
Ferramenta útil que seja, submeter a nossa parca criatividade a quem pouco se interessa por isso, seja até o melhor dos amigos, empurra-nos para uma queda infinita de frustrações e dúvidas. Se ser-se amigo for a destilação pura da sinceridade, a amizade nunca poderá ter lugar na crítica, literária ou de outro modo qualquer.
E não andamos todos à deriva pelo acaso da vida? Claro que andamos. Perceber estes abismos da existência humana é tarefa talhada para os poetas sofredores, não para os comuns dos mortais.
Et tu Miro? - Sim, sou o primeiro a pôr a coquilha lá, onde dói a sério, e depois que a mão estranha passa, vou lá eu bater com força, cheio de remorso. É de uma grande estranheza de modos, mas é assim mesmo. Poucos seriam capazes de me contradizer neste momento: Toda a gente escreve bem, ponto final. - E ai de quem diga o contrário. - Falam uns dos outros, e cada um fala assim por si mesmo, porque ninguém fala verdadeiramente dos outros. Cada frase escrita com bonomia é um plano de marketing para o futuro. Alguém, algures, foi escolhido para ser o ditador das tendências, e já se sabe como são as pessoas; sempre suas escravas.
Os escritores, os poetas, os editores e os pseudo-todas-estas-coisas, são bichos humanos, como eu e tu, não são assim tão excelsos que se possam colocar em pedestrais sagrados, claro que não. Andam pelos seus próprios dias como qualquer outro predador caminha no terreiro desprotegido dos incautos. E são predadores natos, claro que são. - São-no, porque necessitam de sobreviver, como eu e tu também necessitámos. Nenhuma verdade vem aqui ao caso, desenganem-se os distraídos, é um combate interminável. O que queremos todos, é o conforto da mentira verdadeira, da mentira piedosa, e, em casos mais extremos, da verdade inabalável. - O que queremos todos, é vender livros, para financiar as nossas vidas utópicas, de escrever novos livros.
Até nos maiores entre os grandes, vi o costumeiro desespero da publicidade do seu trabalho, neste período do Natal. Ninguém lhe escapou. E, de certa forma, isto deu-me algum alento. Se fulano ou fulana, que ganhou este prémio e que vende x livros por ano, se atira sem remorso a mercantilizar pessoalmente os seus livrinhos nesta época, as coisa nunca poderão estar assim tão más para alguém como eu. - Porque acredito realmente que há lugar para todos neste shopping sobrelotado, e não desisto do meu produto.
As mais caricatas destas quezílias ocorrem entre os pretensos. Os que ainda não são nada, mas alvitram tudo e mais alguma coisa (desde já ponho-me neste lote, para evitar más interpretações.) Somos criaturas impossíveis de se aturar. Porque temos este estilo, esta sensibilidade, temos aqueles três fãs ferrenhos que vivem na Areosa, que nos adoram de morte, e porque, em especial, ninguém, mas mesmo ninguém consegue ser melhor escritor que nós.
É tudo uma lonjura que avidamente procura o tamanho daquilo que nem existe ainda, senão nas cabeças marciais dos intransigentes. - Na verdade eu não sou poeta, nem escritor, nem artista de variedades literárias. Na verdade, eu não sou nada até o ser. E quem determina que o sou? - Não sei também. - Neste mundo de brutos cultos, não importa como tu te movimentas, tanto como quem tu conheces. Uma crítica no lugar certo faz um livro. Um amigo dotado é capaz de te elevar sem que te apercebas. Neste mundo, como em outro qualquer, é tudo uma questão de quem diz mais do que uma questão de quem faz melhor.
Já vi medíocres a ascenderem porque conhecem melhor as regras do que eu, e grandes a desaparecerem pelo mesmo efeito.
Em resumo, quem não arrisca magoar-se também não intensifica a vontade de querer ir mais longe. Se tudo na vida pode ser um jogo, porque haveria isto de ser diferente. Escrevam, escreves, escrevo... e o resto está na sorte. Na sorte, não no talento. É triste, mas é. - Ah! Bom Ano para todos!


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