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Um mal que nem parece


Quando me mexe demasiado coço, e só quando coço demasiado é que me dói. Doer é bom. Doer é uma sensação, um pequeno passo até à realização da própria existência. Pouco me importo com a sensação de disco riscado, dói-me, mas digo, digo... digo o que me apetece dizer. E apetece-me sempre falar sobre isto; estou obcecado!
Um dos grandes equívocos da primeira metade deste século, um dia há-de ser reconhecido como: FACEBOOK.
Sintético quanto baste, expansão fria de grande monotonia e vulgaridade, priva as pessoas de contactarem directamente com a realidade das outras, e vice-versa, habituando-as a uma falsa impressão do que é ser-se uma pessoa a sério. Tal é a sua expansão de polvo, que quem não está, deixa de existir, como que por magia milagrosa.
Se pensarmos profundamente nisto, veremos que nos conduz a certas e determinadas práticas, que um dia, nos hão-de envergonhar a todos.
"Postar", "Likar" e "Tagar" como alguns infinitivos anglo-saxónicos, enchem de ridículo as bocas latinas que os proferem cheias de normal bravata. Silenciosamente, sentimo-nos tolos, mas quem se chega à frente para se queixar disto? - Ninguém! - Estamos lá todos. É como um almanaque enciclopédico da única e pura verdade. Um repositório global de consciente anexação de ideias. Ai de quem se atreva a não estar.
Todavia, algumas grandes ideias, de um modo geral ditas geniais, tendem a ser precoces na sua acepção absoluta. 
O Nacional-Socialismo, por exemplo, durante um breve período de grande desânimo da "grande nação", salvou-lhe a face derrotada e humilhada, até começar a ratar e agonizar, implodindo na sua própria chafurdice. O ministro da propaganda, Joseph Goebbels disse: "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade" - Não é isto que acontece no FACEBOOK?
O Hitler, mesmo nas profundezas da sua loucura, havia de ter percebido que seria inevitável o descalabro, mas quem se levantou nessa altura? Será que o Zuckerberg ainda não o entendeu? - O facto deste segundo ser judeu, nada retira ou adiciona a esta comparação. - O desenvolvimento do FACEBOOK como uma ideia global de união, é iminentemente falacioso, da mesma exacta inversa maneira que a previsibilidade da falência dos mil anos do terceiro Reich o foi.  
Mas, tal era tarefa, como o metal a mesclar-se numa fundição, que o Mark não resistiu à tentação. Ele não foi o primeiro a reconhecer a primordial necessidade de conexão dos seres humanos, apenas intentou consegui-la de uma forma definitiva, quase como o alquimista tenta a transformação do chumbo em ouro. Porque foi rejeitado, sentiu a benção de criar uma ligação mundial de rejeitados, promovendo intencionalmente, o primeiro movimento universal de total engano. E todos cairam na esparrela. O Orson Welles haveria de ter ficado orgulhoso pela sua galhardia jocosa.
Entendam, o regresso à clareza é simples. Desistam, saiam, saltem fora desse chão encerado de mentiras e retornem à boa saúde mental. O FACEBOOK só serve o propósito de absorver as gorduras e os derrames, sem qualquer vigor que dê gosto de ver. É um bicho voraz que nos agarra com tal firmeza, que parece impossível a fuga. Somos devorados vivos e nem nos apercebemos. Sucedem-se as mudanças, e desde a sua criação, em Fevereiro de 2004, o "monstro" não pára de crescer. Cortem a ligação e verão, imediatamente desaparecerá aquele cheiro a podre da linha contínua do "feed", outro anglicanismo sem substância alguma para um bom português ou para um grande ser humano.
A vida continua a existir lá fora, e, as pessoas também.
Por baixo de cada perfil - convençamo-nos - há um soalho podre, seja por necessidade ou por pura bizarria. Ninguém completamente esclarecido se deixa sumergir por algo que o pode pendurar, bater, comprar e transportar. Não é um formato sensato. É um engolidor de facas de fancaria, um rito diário anti-anímico onde as personalidades ou emergem ou sucumbem, mas se vendem, sempre. Histeria de donas de casa e reformados e falhados e também bem sucedidos, numa terna interacção da ganância dominadora da verdade. E os jovens? Meu Deus, os jovens! - Encostam ao ouvido este soalho azul só pelo prazer de o ouvirem, e tornam-se criaturas sem nenhuma magia para um bom futuro.
Quero os meus amigos de volta!
Sim, a minha reacção contra o FACEBOOK tem sido acompanhada por ninguém, rudemente destinada a asfixiar-se a si mesma, em ligeiras náuseas, implorando pela sua própria voz. Consinto a minha existência nula no FACEBOOK como aprendizagem, de cada vez que assisto a mais um indivíduo a ajoelhar-se com um pano branco nas mãos. Um só, será suficiente para contrapor todos os outros que ainda não entenderam. Desliguem-se do monopólio e venham ver as luzes sobre o mar azul.





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