Pensava na morte todos os dias, todos.
De manhã, enquanto se vestia e se sentia vivo, imaginava-se arrebentado por uma rajada de tiros, levado mar adentro por um temporal violentíssimo, arrojado em braços até uma fogueira, atingido por um relâmpago rebelde, trespassado, soterrado, enforcado, envenenado; lavava os dentes e caía sem amparo, em queda livre, por penhascos sem fundo.
Só assim se sentia realmente vivo e nada o atingia, nada o conseguia ferir, nada além das palavras, que até de longas distâncias conseguem ter um poder destruidor.
Usava a imaginação da morte como um escudo silencioso, pois, estando calado, não estava necessariamente desarmado. Por isso pensava na morte, para afastar as palavras que o matavam aos poucos, e também, para se sentir vivo e forte. O que conseguisse.
Usava a imaginação da morte como um escudo silencioso, pois, estando calado, não estava necessariamente desarmado. Por isso pensava na morte, para afastar as palavras que o matavam aos poucos, e também, para se sentir vivo e forte. O que conseguisse.
Parecia quase em casa assim. Morto por dentro, mas protegido.
Pensar nisso, concedia-lhe a perturbante
capacidade de se lhe apresentar, umas vezes, a segurança como bizarro, e
outras, de o aproximar do bizarro de tal forma, que quase lhe podia
tocar com as mãos. Nenhuma palavra vinda de longe o fazia sentir o mesmo. No fim de contas, não haviam mais palavras entre eles. Aos mortos todos falam, mas só àqueles que morreram mesmo. Ele só morria dentro da sua cabeça, e ninguém lhe perguntava nunca, que tipo de morte era essa?
Sentia-se mais descansado assim. Não era nenhuma paz, somente um descanso temporário, que durava um dia de cada vez.
Sentou-se na cadeira, em frente à secretária onde ficava o computador, e o dia continuou.
Sentou-se na cadeira, em frente à secretária onde ficava o computador, e o dia continuou.
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