Respondam-me lá; por que razão se terá de deambular, em ordem decrescente, por alfarrabistas desconceituados, a caminho determinado do fecho, feiras do livro sem vigor altivo, sempre em saldos, amigos donos de tascos esclarecidos, tertúlias ditas poéticas, que se firmam em abraços falsos, ou, horror dos horrores, inóspitas páginas do Facebook, para se ler poetas tão humanos, tão vivos, tão abertos a todas as almas que, em determinados instantes da encruzilhada dos tempos, detêm nas mãos os destinos da nova poesia portuguesa?
Ou será mesmo verdade que o rumo de um poeta neste país, se faz e desfaz no paladar de um punhado de iluminados que sobre eles escrevem, nos sítios certos aos olhos da maioria?
Anda-se a tossir o desespero de só haver poeira e papel velho neste canto estreito do atlântico? É isso? Poderá ser isto verdade? Digam-me lá, que eu estou um pouco confuso por beber demasiado.
Há lugar para a poesia em Portugal? Longe das pobres comemorações, das funestas republicações, das obesas vaquinhas sagradas de morte já anunciada? Foda-se! Há ou não?
Para nossa eterna vergonha, já nem falo dos excomungados, que a esses, ainda, vez em quando, alguém se lembra de trazer à luz as obras completas. Falo dos patrícios novatos. Daquele "miúdo" de quarentas e tais anos, que se atira no dia de hoje, às farpas venenosas, e tenta, caramba, tenta! - Escreve em sangue, sem papel timbrado.
Que futuro que não seja de sombria maldição, poderá tombar sobre esse indivíduo (exposta generalização) de grande riqueza espiritual neste melancólico país de financeiros? Nenhum, certo? - Espera-o a obscuridade absoluta. Ouço comentares tranquilos, de sorrisos mansos, parcos de vontade de mudança, e penso; foda-se, poderia algum mestre d'outrora aturar esta fineza de últimas confidêndias grotescas? - Não! Claro que não. Foda-se, nem pensar!
Que merda de país é este, onde a poesia morre em duplicado. Primeiro em vida, depois, de verdade, numa morte definitiva, para sempre. Espanta-me descobrir que ainda existem tantos que a escrevem. Pobres ingénuos, que acreditam que um livro é a eternidade, e continuam a escrever os tristes, como colmeias acéfalas... escrevem, para o cão, o gato, o mar, o amor, o sexo, os amigos férreos e a transição de um estigma, que, uma vez criado, irá durar e muito dificilmente se perceberá, á luz do poder estabelecido. Mas que será à mesma, mau, mau... terrível. A nossa directa riqueza espiritual comum, atirada ao esgoto, por mor de tantos e tantos e tantos, que querem ver-se eternos sem o merecerem. Escrever não é um direito, sabem?
Onde anda a verdadeira poesia? Perdida, sim. Perdida entre tantos opúsculos merdosos que todos os dias saíem do prelo "on demand", entupindo o caminho para os verdadeiros poetas.
Mais tarde ou mais cedo, morreremos todos nesta avalanche, e só os dilectos olhos dos mais discretos leitores, encontrarão o estricto sentido escrito para tanta palavra impressa.
Boa pergunta.
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