Havia de se poder submeter a sufrágio os auto-retratistas. Não falo daquele voto anódino dos comparsas, mas sim de uma eleição a valer, aberta a todos. É que, esta inconstância de máscaras é tal, que chega a provocar tonturas.
Da minha parte, deixei de ver as "selfies" do Facebook, apesar de algumas, memoráveis, entrarem directamente para o panteão dos excelsos egocêntricos. Na verdade, deixei de ver tudo no Facebook, tornei-me incapaz de lá existir. A culpa não é de mais ninguém, senão minha. Como toda a gente sabe, tudo perpassa um sentido de ridículo quando atinge o exagero, o auto-retrato é um deles, e o Facebook extravassa-o, é, o exagero do tudo, onde só os misantropos coexistem com os seus rostos de pau. Eu já não consigo, o meu tédio fugiu das pessoas. É tal a melancolia, que se tornou em aversão.
Posso estar-me a cagar para tudo isto, e até estou, não me limpem a boca antes de tudo sair inteiro, só que, não reconher o que não gosto, torna-se numa cegueira, e, os cegos, ou os mudos, ou os excluídos podem ser tão maus quanto qualquer um. Julgar os perfeitos e denegrir os não-acabados é um absurdo igual a tantos outros deste meio. Os ditos "deficientes" sociais, também lá existem, pronunciando opiniões de longo alcance. A diferença, é que não existe ninguém em seu redor.
Esta alusão constante à vida privada, é um logro, sabem? Ninguém ri ou chora assim tanto, ninguém vive assim tanto. A liberdade é total, mas não é ali. Considerar um mural como a "casa" de alguém, é o exponente da estupidez moderna. As "casas" são todas iguais, arquitectadas em Palo Alto por um engenheiro de sistemas "cego", ou "estúpido" a tudo aquilo que cada utilizador distante pretende. O rigor destes tempos equilibram tudo, menos a comunidade.
Se pudessemos dar ao que se escreve os tons musicais das grandes partituras (adágio, piano, allegro, molto vivace), tudo seria mais fácil, mas, não é. De caminho, como é hábito nos calhordas (reais ou virtuais - é tudo a mesma merda), que vão lançando farpas sobre a insinuação da vida privada de qualquer um, o ressabiamento e a maldade vão crescendo exponencialmente até tudo ser uma casca azul.
E no fim, ficam os auto-retratos ali dispostos como teoria do levantamento do ego, cada um mais exposto que o anterior, até não haver mais ninguém que os aguente ver sem conter um vómito.
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