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O teu rosto enche-me a memória, de uma visão triste,
aquele instante que precede o fim,
antes mesmo de as minhas mãos lhe tocarem,
ou se encherem da ansiedade de cimento,
de um vento fresco que chamo de o fim do tempo,
morreriam felizes, a iluminarem-se,
do toque que o teu olhar pousa em mim.
Se houvesse alguém eleito para o descrever,
seria pálpebra, pálpebra, nariz em curva, lábios de carmim.
Escondes em teu rosto a alma secreta da minha paisagem profunda,
feita de socalcos de rugas, de limites passageiros,
de tanto que perdura cá dentro.
E nos céus áridos da minha imaginação,
passo de homem a vegetação verde que vive para te ver.
Arrefecido de pedras, à noite, a descansar nos teus restos de calor,
entre o verde brilhante da tua visão fecunda,
e a água parada da minha pobre consolação.
De luz em luz, em constante credo,
alvoraço a palidez desconjuntada deste fugaz ardor,
a tua face límpida da minha,
os teus dentes movendo-se iguais ao meu medo,
os teus olhos turvos destes dias sem destino.
Vendo-me à paz deste teu lume curvilíneo de desamor,
vencido pelas expressões que fazes, e que só no meu desejo imagino.
Se eu soubesse dar às palavras descrição dos recantos da tua pele,
partiria todos os espelhos, todos os corpos de água.
Pudesse eu encher-me desses contornos perfeitos,
rutilantes, cheios de brilho, redondos e carregados do meu reflexo,
seria devagar, maciamente,
as mãos divinas, merecedoras da leveza dos teus trejeitos,
caminho certo até ao descer decidido dos teus peitos,
onde se colora a pureza do sangue.
Tão grande que, se beijasse esses olhos,
na cor vermelha que saliva por estes líquidos momentos,
encontraria certamente, o motivo para este poema.
Casimiro Teixeira
2012
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