Ando triste por estes dias: Aquela tristeza de pássaro sem nuvens, planando pelos telhados entre a maresia do tempo soalheiro e a longa cumeada estéril, sem alimento. Ando triste, pronto. Nem sempre a tristeza precisa de uma explicação, talvez até seja mais triste assim. Um fio de treva cá dentro, a povoar-nos de humidade. Estou sem explicação.
São tão grandes as minhas dúvidas, que só me inspiram desalento. Detesto isto. Estar assim, triste! Triste e outros tantos atributos construídos sobre adjectivos soturnos de igual modo. Tristeza! O que é isto? Estou incoerente.
Escrevo as minhas coisas e concentro-me no plano de vida. Tenho amor e tenho amigos, mas, ao mesmo tempo, não tenho ninguém que se interesse por mim. Estou egoísta. Estão todos interessados nas suas próprias alegrias e tristezas e eu, rancoroso do desdém que nem me atiram, definho. Estou parvo!
Escrever sem leitores é uma prisão sem carcereiro, enganadora de uma liberdade que realmente não existe, fora da nossa cabeça. Estou enganado?
Não! Estou triste, sim. Existir sem depois é algo que ultrapassa o egocentrismo, marca-nos de uma sanha irritante que não nos larga. Mal ou bem, queremos mostrar tudo, atirarmo-nos nus aos olhos de terceiros, e eu não posso. Não tenho dinheiro para ser visto, ou então, não possuo talento para ser interessante. Estou triste. triste, triste...
Cairá alguma sorte antes cedo, e com cuidado, que me afoge de morte toda esta tristeza? Pois não sei. Estou morto para o mundo, e nem sequer me vi nascer sem querer. Foi como se tivesse nascido ao contrário, enganando o rumo certo da natureza, e agora me sinta encolhido no útero vácuo do nada. É capaz. À tardinha espelho-me na janela e só ouço zumbidos reformulados, e depois entristeço-me por acreditar que mais nada de nota me irá acontecer neste Verão. Estou quase, mas sempre sem lá chegar.
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