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O Homem-Espelho no 13 de Maio

 "OLHA O PORCO, O PORCO NO ESPELHO!"


Por favor não me negues mais, estou cansado de não existir, de não importar. Ontem mesmo nem quis saber de me limpar por trás. Dir-se-ia que é por estar tão gordo que a minha mão que limpa a merda já não consegue atingir o esfíncter de onde esta surge. (baseado em uma história real) Fui existir outro dia com uma crusta de merda nas culotes intoleráveis. Uma fila castanha de aeroporto onde só as moscas aterram. Esfrego e esfrego e é só papel atrás de papel poluído por esta inabalável frustração. O cheiro da nulidade tornou-se tão insuportável pelas três da tarde que me abriu as narinas à epistemologia desta acção. Daí em diante evitei tomar banho, apenas para que o meu próprio odor pudesse emergir do fedor desta ciência inabalável.

Por favor voltem, por favor todos vós retornem...Eu limpo-me! - Sou negacionista, sou hipócrita, sou carente....sou tão carente!

Guincho a todos os vidros que encontro na esperança que me reflitam, nenhum devolve a imagem do meu passado glorioso (Aham...sim, glorioso! Hã! Ah, pois). Tudo agora é um falso espelho cristalino e sou sempre um terror aí visto. Um pesadelo de visão presente. Perdi-me demasiado no passado e no álcool e fiquei um atlas sem músculos consequentemente fraco para me erguer sozinho, quanto mais a este terrível mundo que só clama por força.

Encosto a mão à boca para evitar a gritaria. Se isto é real, opto por uma banheira de sangue onde tudo se lavará. Todas as vozes na minha cabeça estão embriagadas e só me imploram esse fim. Se houvesse realmente um deus, teria piedade ou fulgor de vingança. Havendo divindades nunca em cem anos me cheirariam nesta altura. Não havendo é igual. Para quê então? - Buda abnegou-se ao fechar os olhos! Cristo fez um sinal que cruzou o ar. Os Outros fizeram uma espécie de reunião de condomínio para me expulsarem. Somente Javé me rejeitou linearmente por cheirar mais a bacon do que a merda.

Parece-me bem, sabe a tudo que a perfeição deverá ser na boca. Um deslize doce até ao oblívio, um passo grandioso sem escorregar no sangue. Porém, torna-se escuro por vezes, torna-se escuro sempre que o planejei e falhei. Imagino agora um deus que se atrapalha nas suas falhas e corrompe o discurso tentando dissuadir-me da banheira. Que pobreza de espírito! Imagino esse deus todo nu e abnegado. Um apócrifo que nem é capaz de canonizar a minha própria morte para defender a sua convicção. Que poder tem a fé, se nem me evita o fim?

Volto a vós e quero mudar-me. Entrego-me à revelia da vossa vontade de me escrutinar e arrojo-me de rodilhas ao chão do meu destino. Tem de ser, tem de ser....tenho de me acabar! Sou apenas este escravo que aqui vedes.

Não me limpo coisa nehuma. Cago-me, cago-me muito. Expilo excrementária. Diarreia ateia por demais. Jactos de álcool em excesso convertidos em resistência ateia. Nada me influenciará os intestinos da fé. Nada me mudará as intransigências do sistema digestivo face às salas recém edificadas. Até o museu do santuário transpira religião enforçada. Aos tributos requisitados, demasiado esforçados, normalizados por esta fé "new age", eu digo, fodei-vos todos. Se Cristo morreu na cruz, não foi certamente para enriquecer uma turba de gente despropositada que à quase 110 anos vem a desenvolver um negócio contínuo de explorar a imagem da sua mãe.

Ao debater qualquer assunto a necessidade de provas decai sobre quem a necessita. Eu não! Eu acredito em tudo que me faça avançar.

A rejeição merece a resposta adequada e é esta. O valor da verdade. Não vos sentireis mal por me perder, hoje não. Nem amanhã, nem daqui a seis meses. Todavia, e como nos afundámos todos, e como todos nos enganamos a acreditar que só importamos por existirmos, um dia todos vós desabarão pelo meu fim. É verdade! Mais tarde ou mais cedo alguém levantará questões e à falta óbvia de respostas só um conclusão será possível: Porquê?

Estou dispoto a falsificar todo o conteúdo que acumulei sem querer para vosso gáudio e interesse. Desisto de ser tudo para me entregar ao vosso compromisso, seja ele qual for. Sou uma pústula. A vossa.

As pessoas tentam passar constantemente falácias óbvias de um ónus para outro e isto deriva de provas de impossibilidade. Jamais alguém saberá que género de pessoa eu fui, que acervo filosófico abracei e sobretudo, e isto é que realmente importa, quem é que realmente amei! Todas as questões que levantei, todas as filosofias que expressei, todos os pressupostos que questionei são menores ou quase inexpressáveis perante a fundamental questão:

Quem comanda realmente esta merda toda, e, como posso eu lamber-lhe diligentemente os tomates ou a cona, de modo a conseguir finalmente aquilo que eu quero?

No fim de todo este palavreado eu morro mesmo, é inevitável. A porcaria que me destrói invadiu a fortaleza da minha existência. Não há mais condições para ser EU,  perdi-a em um debate violento que ocorreu algures nos finais dos anos 90.  Nessa altura ainda acreditava que a vida podia ser direccionada para um objectivo. Tudo não passou de um sonho!

Vinte anos depois de acreditar que poderia fazer a diferança, escrevendo, morro. Morro assim, escrito neste blogue não lido!

Que merda de Vida!

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