Confesso, não gosto nada de pessoas contentinhas, desagrada-me aquela gente que informa todos, por tudo e por nada, que estão naquele lugar impossível de sublime felicidade. Em especial, dessas pessoas que o fazem porque viram um filme, ouviram determinada canção, leram certo livro. Se dependesse destes, a literatura já teria se esvanecido da face da terra. Ainda assim, as pessoas ditas "normais" continuam muito apreciadas, apesar de quase sempre, serem estas que se constituem como as principais cúmplices do grosseiro mal visceral que atravessa a literatura actual. As pessoas "normais" são muitas, são a maioria, e são elas que compram os livros "normais", os livros sem excepção, os que só se vendem porque elas os compram.
Ontem lembrei-me de uma frase que Zelda Fiztgerald costumava dizer ao seu marido: "Ninguém mais do que nós tem o direito de viver, e eles, filhos-da-puta, estão a destruir o nosso mundo".
Talvez Zelda se sentisse um pouco exaltada pelo desdém a que ela, e, em grande parte, mesmo o seu famoso marido F. Scott, estavam votados nessa altura, contudo, acredito na verdade das suas palavras. Zelda sabia bem o que o jogo inglório do comércio provocava nas pessoas contentinhas que liam livros de merda, uma sensação anódina de satisfação cultural. Como leio sou culto, e como culto, influencio. As grandes editoras estão bem cientes disto, não se enganem. Todavia, as suas palavras ressoam-me tão verdadeiras hoje como então, e fazem-me odiar essa grande parte da humanidade "normal" que dia a dia destrói o meu mundo. Sim, eu também odeio as pessoas que são de uma grande bondade porque ninguém lhes deu a oportunidade de saber o que é mal e poderem então escolher livremente o bem. Soa-me sempre que esse tipo de pessoas "bondosas" são de uma maldade extraordinária em potência. Faz-me querer também detesta-los como Zelda as detestou e chama-las igualmente de filhos-da-puta! - Só não o faço porque sou um grande covarde de merda, e porque também ando neste jogo intransigente das palavras.
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