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Aguardo pelo centésimo macaco

O título é tão provocatório quanto verdadeiro. Logo verão porquê. 
Ao som, mais ou menos afinado do "Grândola Vila Morena", estes protestos dispersos que mais recentemente, têm feito honras de receção a todo e cada governante incauto que arrisque pôr o pescoço no lugar da boca, contêm, em si mesmos, a génese de dois fenómenos deveras interessantes: O primeiro, é o mais óbvio. A própria imprevisibilidade da acção. Que até se pode revestir de algum perigo, pois, como não exista organização que lhes deite a mão, sendo estas absolutamente espontâneas e independentes, abrem as portas a um tipo novo de poder invisível, igualmente nocivo a uma democracia saudável. - Que não haja aqui má fé ou má interpretação do que digo - Ainda bem, para já, que estes impulsos abruptos tem sido bem dirigidos, mas, e quando romperem todas as barreiras, e a excepção se tornar regra, desbaratando-se a boa mensagem implícita na força desta letra por todo o grão infeliz de indivíduos que decidam expor as suas próprias ideias? Quem decidirá, com nítida clareza, e boa razão, assente nos sadios princípios da liberdade de expressão, que este ou aquele, são agora também candidatos ao duro vaiar do descontentamento generalizado? - Poderei eu próprio, vir a ouvir o "Grândola Vila Morena" numa apresentação de um dos meus livros, se, porventura, alguém me decidir incluir no contracampo límbico de um todo fascizante? - É possível. É bem possível. Porque, individual ou colectivamente, a mente de um indignado, não distingue com grande clareza, turva que está, pela desdita da sua situação. É aqui que reside esse perigo. Estas ondas sem antecedência e sem estrutura conhecida e previsível, por vezes, de um cidadão apenas, um corajoso e claramente descontente cidadão, que recebe em si mesmo, só ou em grupo, um poder atómico e viral, idêntico ao da Internet, podem ser, e são, regra geral, devastadores. 

Mas, o segundo fenómeno, distintamente mais intrínseco e profundo, ocorre-me à luz de uma pequena história que ouvi em tempos, e que me marcou intensamente. Pode parecer quase uma nota de rodapé, porém, depois de a recontar, talvez entendam a relevância do meu raciocínio.
Durante os anos cinquenta do século passado, quando os homens, se divertiam na exploração de um novo "brinquedo" chamado atómo, fizeram explodir, por pura curiosidade científica, várias bombas atómicas nos mais distintos e remotos lugares deste planeta.
Algures, num pequeno atol desabitado no longínquo Pacífico, os ditos cientistas, despoletaram este poder avassalador de Deus moldado em parca mediocridade nas mãos dos homens. O resultado foi, igualmente óbvio, e desprovido de grandes surpresas. A intenção desta experiência, era a de atestar a durabilidade do efeito mortífero da radioactividade nos seres vivos. De modo que, alguns anos transcorridos sob a deflagração do átomo nestas cercanias, os mesmos cientistas decidiram pela povoação do lugar com uma infeliz população de macacos-cobaia.
Ora, os macacos cedo se começaram a alimentar da única e abundante fonte de energia existente no local: Côcos! - A questão, é que, as cascas fibrosas dos côcos, ainda detinham uma quantidade considerável de radiação, a suficiente para os exterminar em absoluto a médio-longo prazo.
A solução encontrada, apesar de pouco engenhosa, demonstrou vir a ser extremamente eficaz. Os sábios cientistas, ensinaram cerca de dez macacos a lavarem os côcos em água corrente, água fresca e potável, encontrada na ilha de coral, antes destes os comerem. E, em pouco tempo, já doze macacos o faziam, depois vinte e três macacos, quarenta e sete, setenta macacos lavavam os côcos antes de se alimentarem. Quando atingiram a marca dos cem macacos a emularem esta acção de pura sobrevivência, algo de extraordinário aconteceu.
Todos os dez mil macacos que habitavam aquele atol mortalmente poluído por radiação, começaram a fazer o mesmo, e, o resultado ulterior da experiência foi de um brutal sucesso: Todos eles sobreviveram! - É a este fenómeno que eu me refiro, e só anseio que exista alguém suficientemente arguto, em meio de toda esta corja de "macacos" que nos governam, que compreenda a viralidade deste processo já iniciado. Pois, de outro modo, e passe-se a referência cinematográfica, não me restam dúvidas de que, mais tarde ou mais cedo: "Haverá Sangue".

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