Avançar para o conteúdo principal

Amour!

Raramente falo aqui de cinema. Há muitos anos atrás, apaixonei-me por um tipo de cinema, que dificilmente consigo encontrar nos dias de hoje. Quando vejo cinema actual penso que, na maioria dos filmes, falta maravilhoso, aquela espécie de unguento que percorria os filmes antigos e que ainda hoje os faz nossos para sempre. Que não precisam resistir ao tempo, são pertença natural desse outro onde somos passantes ensombrados pelo relógio interior que inventámos.
De tempos a tempos, a TV satisfaz-me essa nostalgia por bom cinema, embora, nunca mais seja aquilo que foi, nos tempos áureos da RTP2. Os seus ciclos nocturnos, de descarada fuga ao communmente comercial. Saudades, sim. Resta-me o desafogo ocasional da escolha arbitrária do DVD. Não é a mesma coisa. A RTP2 oferecia-me o prazer de o cineclube caseiro, e eu adorava-a por isso. Revi Casablanca, à poucos dias, em seus tons de apetecer - reconheço que por ter passado na TV e livre a minha areia na ampulheta - revi também um delicioso filme menor? de Hitchcock: Dial "M" for murder, com a elegância de uma Grace Kelly a entornar sobre a trama, nos gestos mínimos; e, claro, a genialidade de Hitchcock. Andei a hesitar em revisitar Anna Karenina no grande ecrã, que conheço pelo livro e pela enigmática Greta Garbo, e logo desisti da ideia. Só vi o thriller e bastou-me à desilusão. Até gosto absurdamente da Keira Knightley, mas, não creio que a estética primorosa vença a vida que lhe não encontrei. Mas também não sei se o thiller basta para opinar com alguma verdade.



Depois, vi Amour de que gostei a valer. E dizem que é triste. E que seja. Achei-o de um realismo insofismável e muito europeu, tão agradável como um banho de água limpa. E não desvendo que se deve ir para um filme em esperança e nada mais. E mais não digo portanto, pois não sou nenhum crítico bacoco. Os filmes, como os livros, devem de ter este poder indecifrável do maravilhoso, é a única característica capaz de os tornar resilentes à passagem do tempo dentro de nós. Amour é assim!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...