Avançar para o conteúdo principal

Sabes...


Sabes,
escolhi o pior lugar para me esconder.
Fui trancar-me sozinho dentro de ti,
e já não sei maneira daí sair.
Escrevi frases e frases e frases ao vento,
nunca mais ninguém as leu como tu.
E em cada um dos meus versos,
contei o princípio do teu nome.
Sabes,
estremece ainda, às vezes, todo o meu chão,
pelo modo inteiro como ainda me roda o quarto,
de embriaguez por ti.
Estremeço também com
os barulhos nocturnos da nossa água,
naqueles lugares estreitos de mistério,
onde a compreensão nunca chega.
Sabes, 
ponderei sobre as razões todas
e sobre aquele vento que subia devagarinho o teu vestido
pelas tuas pernas de veias mínimas,
de ancas largas de sol 
pintadas a cal,
onde se perfilou o fio do meu último desejo.
Sabes, 
foi tudo um longo eco de loucura, não foi?
Já nem me encontro dentro de ti,
só estremeço pela cor da noite,
e pelo pressentir distante dos tempos,
quando a ideia de ti insiste em me procurar.

Sabes,
Se voltares por aquele beijo que esqueceste,
aquele livro que deixaste, aquela argola de orelha,
aquele disco exausto, aquele boneco de pau,
aquela figura de Cyrano, aquele gosto de pele...
aquelas palavras todas, não!
Não voltes nunca por palavras. 
Sabes,
este amor, foi uma semente inventada,
um só fulgor fátuo de estrelas já mortas.
Calmamente, se instalou e se deixou ficar,
a caminho dos teus pés, na magia das nossas bocas
entre a loucura dos nossos corpos súbitos.

E agora, sabes,
agora, só,
estremeço, só estremeço,
quando toda a minha vida me explode em contra-mão.
E se um dia voltares, 
me arrebatares novamente, ou por fim,
destes caminhos só escritos, só de solidão,
deixa que seja por acaso,
que os versos nunca dizem nada de nós.

Sabes como é?
Volta apenas,
como quem guarda o pó distante de um nome
nos versos que nunca o dirão.




  

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012