Avançar para o conteúdo principal

Ah, poder sonhar e não mais acordar!

Nunca sonho os sonhos completos. Isso é das maiores tolices consentidas. Acabar-se-iam e depois, a lucidez não me convém de todo. Ficaria cego, ainda que de olhos abertos, de órbitas vazias, perfeitamente claro, mas sem instinto criativo. Preso a instantes-sonhos horríveis e outros pertences menos humanos. 
Um dia hei-de ponderar sobre os sonâmbulos! Sim, esses heróis esquecidos da noite. Estar do outro lado é que é, mais do que um sonho, nesse lado tudo se arredonda de tão absorto que é, de tão pouco indigno que é. Ali é que há vida! Ali existe-se. E todo este irreal sorrateiro tornar-se-ia a única coisa real que valeria a pena.
Nunca desta cabeça saiu uma imagem de desconfiança. Sempre ovelha de olhos abertos, nunca pastor incinerado lá no outro reino verdadeiro. Acordado tenhos facas e facas e facas e desfaleço de energias, sem poder sonhar. Por vezes até parece que a minha alma se antecipa ao momento do desfalecimento, sucumbindo ao sonho que estou a sonhar mesmo de olhos abertos. É de todas, a minha auto-oferenda mais querida. Quiçá venha a ser a minha mais perfeita glória.
O fogo do céu descerá sobre estes lugares de vício e um dia, um dia aprenderemos todos a ser rebeldes, a ser heróis-sonâmbulos. Não mais homens cheios de fraquezas e ignorâncias, submetdos a deuses abominantes. Um dia sonharemos em uníssono, e as máquinas acordadas entrarão em modo de auto-destruição. Um dia o mundo acordará de verdade, e ai de quem nos tente deter.
 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

...Poderia ser maior! Poderia ser um escritor, em vez deste blogue vagabundo que... foda-se!

  "On The Waterfront" 1954 - Elia Kazan

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou...