Avançar para o conteúdo principal

Regresso onde nunca estive.



















Regresso devagar ao teu sorriso,
como quem volta a casa com vontade.
Faço de conta que não é nada comigo,
mas depois penso melhor:
Sou tolo por pensar que não o preciso,
e distraído, percorro um caminho que já é só saudade.
Pequeninos olhares que negados são mero castigo,
e que inflamam a paixão até ao osso da dor.

Digo o teu nome em voz alta, como um louco.
Como um louco grito-o, pelo sim e pelo não.
E o teu nome acende ainda mais o meu desejo,
nunca pensei perder-me assim!
É um mistério infalível que não apouco.
Que atrevimento foi desperdiçar um beijo tão...
Ah dane-se! Regresso devagar onde me revejo,
num começo sem medo que chegue ao seu fim.

Agora já sei que os beijos tem um olhar fulgurante,
movendo-se à volta de um fogo que grita gemidos.
Talvez seja isto um sonho apenas, nem sei.
Fujo do que sei, porque eu nem interesso.
Fica. Luminosamente como minha amante,
ouvindo-te dentro de mim, perdida de sentidos,
correndo solta como te imaginei,
naquele lugar saudoso onde devagar eu regresso.

Comentários

  1. Gostei imenso destes versos do regresso, Casimiro!

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigado Dulce, é um prazer sentir as suas palavras. Beijinho.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

O Incidente de Plutão (Parte II)

Continuação... Xavier sonhara o corpo de uma loura por semanas, nos intervalos em que se convencia a si mesmo que a amava porque sim. Mas que desacato. Não tinha heroísmos em part-time para dar a ninguém e por isso se pusera a fazer teatro no fim do trabalho como forma de não se maçar a si mesmo. Era um salto à vara espantoso, se de tantos lados que procurou socorro, este lhe chegasse através desta mulher. Doroteia, vista pelos seus olhos era a mulher mais bonita da cidade, e ai de quem o  contradissesse. Não era que o dissesse a ninguém, de todos os modos só se queria deitar com ela e deixar-se adormecer ao seu lado como uma fera amansada. Era tudo matéria de sonhos. - E o que foi que tiveste de fazer pelo teu pai? - Arriscou a pergunta. Não foi pronta a sua resposta, apesar de se perceber na comissura dos seus lábios os indícios de um longo diálogo consigo mesma - precisamos de falar sem rodeios - ouviu depois o rapaz dizer. - Isto é, se queres que fique e te escute. Quer