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Os dias mais interiores


Andamos por aí blindados, brincando nas ruas, e nas mesas dos cafés aos carros de assalto, cada um a pensar na melhor estratégia para defender os seus interesses. Fala-se e ninguém realmente escuta, impacientemente à espera da sua vez de falar. 
E todos têm tantas opiniões para dar e tanta razão na certeza do que dizem!
Quando as coisas azedam depois, o que invariavelmente acontece, do assunto em discussão passa-se para o ataque pessoal e lá vão mais uns pontos na frágil tabela das relações humanas, mais uns riscos e arranhões, alguns indeléveis. 
Fala-se de coisas que nada têm que ver mas há que saber que, em modo de sobrevivência, os egos disparam sem raciocinar sobre tudo o que mexe. E os minutos e as horas passam, sem haver nada decidido ou importante a ser dito...tolices a maioria! Somos assim, não é de propósito, simplesmente nada se conclui neste extremo estado emocional. Somos conduzidos pela exaltação do nosso próprio umbigo. Vai-se lavando roupa suja. E à mão por vezes!
Geralmente está tudo muito mais empenhado em ter razão e fazer valer o seu ponto de vista – custe o que custar e sem olhar a meios – do que em ouvir todas as partes, ponderar a melhor solução e chegar a um consenso. Alguns opinam mesmo só por opinar, porque ficar calado é sinal de não se ter opinião – fica mal o silêncio. Por isso, quando chega a hora de tomar decisões – daquelas que não podem mais ser adiadas – está tudo exausto e desgastado. Decide-se então à pressa, tendo em pouca conta o que foi dito, porque tem de se chegar a alguma conclusão mas já é tarde!

Escutemos a voz interior, calêmo-nos e quando falarmos, quando falarmos... deixemos as tolices de lado, e que seja pelo bem geral. Parece quase ridícula esta conclusão, de tão simples, mas resulta!

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