Na linguagem de todos os dias, a noção de felicidade designa uma inclinação amoral pela vida dada ao prazer. Sempre achei inexacta esta designação. Compreendi sempre a vida feliz de uma forma muito céptica, quase redutora: como sendo a experimentação do prazer limitada àqueles que não sofrem, ou seja, somos felizes na medida em que sabemos afastar o sofrimento.
São muito poucos aqueles que sabem enfrentar o sofrimento com dignidade e, em muitos casos, não são aqueles que se espera que o façam. Poucos sabem calar-se e respeitar o silêncio dos outros.
Todos descobrem, mais tarde ou mais cedo na vida, que a felicidade perfeita não é realizável, mas poucos se detêm a pensar no seu oposto. Ser perfeitamente infeliz, também não se consegue com a devida facilidade.
Os momentos que se opõem à realização de ambos são da mesma natureza, derivam da nossa condição humana, que é inimiga de tudo o que é infinito. Mas, só nos preocupamos com a primeira premissa: A felicidade perfeita, ou, mais concretamente, a sua eterna procura. Isto ensina-nos uma outra lição fundamental, que constitui a estrutura química da criatura humana; esperamos, aprendemos a esperar, a ter esperança, sempre!
Opõe-se a isto uma única coisa: a certeza da morte, que sempre nos poluirá qualquer felicidade duradoura se formos tolos o suficiente para lhe darmos excessiva atenção. Bem sei que, quanto a isto, poucos me compreenderão, e é bom que assim seja, pois, em boa verdade, não me interessam os que me invadem o silêncio como bárbaros, aqueles tristes e eternos "sofredores" que parecem libertar continuamente uma raiva velha de muitos séculos. Prefiro os que sofrem dignamente, aqueles que, para minha digna e grande felicidade, passei a chamar de amigos.
Gostei de te ler...
ResponderEliminarBjinho :)