É
preciso salvar este precioso marco que representa o cunho da memória deste povo
valente, que habita indolente junto aos seus pés de pedra.
É
estranho, mas a verdade é que, mesmo depois de extinto, depois de ter morrido a
última freira, a sua história não parou. O que não se reveste de estranheza,
porém, é a forma como um edifício de pedra, metal, vidro e argamassa, também se
torna feito de sangue, vidas e lembranças.
Isto
de falar do Mosteiro de Santa Clara, levar-nos-ia longe a todos, e já basta o
muito que sobre ele já foi dito e escrito ao longo dos tempos. Mas é importante
não apagar nunca a recordação do vandalismo impune aqui perpetrado, sem
respeito pela dignidade do seu passado, ou préstimo pelos interesses de Vila do
Conde.
Foram-se
os cálices, as custódias, cruzes, lampadários, tocheiros. Evaporaram-se em
grande mistério, os relicários, as pinturas, os azulejos e toda a estatuária.
Tudo isto se sumiu de entre portas, numa avidez de roubo e destruição que nem bem
se sabe porquê. Ficou por fim, o próprio edifício, solitário, abandonado e
despido de tudo o que, por justiça da história, lhe perfazia por direito como
seu recheio.
Acumularam-se
anos de indigência e de indiferença, e agora, até o próprio Mosteiro,
delapidado e acabrunhado na tristeza do desamparo, ameaça tornar-se numa mera
sombra do que já foi, assim, desprezado, por quem lhe comanda o destino,
desliza para o inevitável esquecimento, tornando-se mesmo num perigo iminente
para aqueles que tanto o admiram e dele se orgulham.
Torna-se
então, mais que necessário, que todos nós, gente ribeirinha insuflada pelo
orgulho bairrista por esta terra de subtil beleza, e por este portento da nossa
história e da nossa memória, que tão bem sempre a representou ao longo dos séculos,
tenhamos um assomo de ira interior, soprado por ventos desconhecidos que nos
compõem ainda, tenho a certeza que sim, e tomemos medidas que o resgatem
definitivamente das brumas da perdição. Ele assim o merece, e nós também.
Um primeiro passo pode ser a assinatura desta petição pública:
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