Avançar para o conteúdo principal

Apresentação do "Governo Sombra" no Porto

Vivo num tempo tão incerto, e nunca sequer, cheguei ao ponto de presumir que o compreendo completamente, e nem quero tentar compreende-lo. Não, não falo do tempo comum, aquele que os relógios de pulso nos garantem com uma temerosa segurança, que a esse, só faço justiça de entendimento em breves momentos sem alívio, mal disfarçados por sorrisos afectados, falo de outro tempo, daquele que nem é plausível pelo ponteiro dos segundos, e é este, este tempo que não corre, e que nem desaparece, aquele que me importa a sério.
O outro tempo, onde as emoções se aceleram, ensina-nos cruelmente a sua fraca maleabilidade, com lições rotineiras de dor ou prazer, mas este não, este abranda continuamente, até o sentirmos quase estático, parado na nossa frente. É este tempo que me desfigura as certezas, e me ensina outras lições, bem mais valiosas. E, se preferir não ter a certeza dos factos reais, posso ao menos ser fiel às impressões duradouras que essas emoções me deixaram. Sinto-me mais confortável assim.
Este tempo de agora espreita a luz que a minha própria fome de luz criou, e o que encontra é um vazio de linguagem, uma profusão de nomes carregados de significados, de onde, regularmente, ressalta a amizade.
Foi exactamente assim que me senti ontem, quando fui até ao Porto, apresentar o meu livro. Vivi este outro tempo, por alguns momentos, este tempo liberto do pêndulo inexorável dos segundos. Engrossou, cresceu sem sentido aparente, e acreditei realmente que deveria ser assim que o tempo tinha de passar: rico de emoções, largo de sentido, eterno.
Obrigado a todos aqueles que me fizeram companhia ontem, que me deram permissão para acreditar num tempo assim, para sempre! - Fizeram-me ser quase intemporal.

Comentários

  1. Gostava imenso de ter ido mas era impossível. No entanto aguardo a data para Aveiro :))
    Beijinho
    Teresa Carvalho

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

...Poderia ser maior! Poderia ser um escritor, em vez deste blogue vagabundo que... foda-se!

  "On The Waterfront" 1954 - Elia Kazan

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou...