Vivo num tempo tão incerto, e nunca sequer, cheguei ao ponto de presumir que o compreendo completamente, e nem quero tentar compreende-lo. Não, não falo do tempo comum, aquele que os relógios de pulso nos garantem com uma temerosa segurança, que a esse, só faço justiça de entendimento em breves momentos sem alívio, mal disfarçados por sorrisos afectados, falo de outro tempo, daquele que nem é plausível pelo ponteiro dos segundos, e é este, este tempo que não corre, e que nem desaparece, aquele que me importa a sério.
O outro tempo, onde as emoções se aceleram, ensina-nos cruelmente a sua fraca maleabilidade, com lições rotineiras de dor ou prazer, mas este não, este abranda continuamente, até o sentirmos quase estático, parado na nossa frente. É este tempo que me desfigura as certezas, e me ensina outras lições, bem mais valiosas. E, se preferir não ter a certeza dos factos reais, posso ao menos ser fiel às impressões duradouras que essas emoções me deixaram. Sinto-me mais confortável assim.
Este tempo de agora espreita a luz que a minha própria fome de luz criou, e o que encontra é um vazio de linguagem, uma profusão de nomes carregados de significados, de onde, regularmente, ressalta a amizade.
Foi exactamente assim que me senti ontem, quando fui até ao Porto, apresentar o meu livro. Vivi este outro tempo, por alguns momentos, este tempo liberto do pêndulo inexorável dos segundos. Engrossou, cresceu sem sentido aparente, e acreditei realmente que deveria ser assim que o tempo tinha de passar: rico de emoções, largo de sentido, eterno.
Obrigado a todos aqueles que me fizeram companhia ontem, que me deram permissão para acreditar num tempo assim, para sempre! - Fizeram-me ser quase intemporal.
Gostava imenso de ter ido mas era impossível. No entanto aguardo a data para Aveiro :))
ResponderEliminarBeijinho
Teresa Carvalho