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Quem és tu?



Quem caminha sempre a meu lado,
e sabe todos os nomes do meu corpo?
E sozinha, constrói pilastras sólidas de vento,
com as conchas que recolheu na praia da minha alma?
Quem foi que assim me acolheu?
Quem veio de longe chorar por mim,
e tornou próximo o meu desânimo, como se fosse seu.
E nem emitiu um só suspiro de enfado?
Quem entende onde eu começo e porque acabo,
e não censura nem aprova a infíma minúcia do meu mais infiel intento.
Quem?
Quem me grita com paixão e me susurra com calma,
e condensa toda a ternura do mundo em suas mãos,
para depois a entregar, assim,
num oceano infinito de canções e de afagos?
Quem carrega junto ao peito os meus espinhos?
e aí faz florir a mais bela rosa.
quem me atura as impaciências e os desalinhos,
e empresta seus ouvidos ao desfiar da minha prosa?
Quem me ouve a angústia do desespero,
e a sirene espavorida de seus irmãos,
as tremuras, os desgostos, as invejas e a dor,
as manhãs aborrecidas e as noites sem esmero.
Quem? 
Quem me impede o avanço certo da demência?
Quem me traz seus beijos e a entrega lânguida do amor,
e é meu sol todos os dias, e é um céu que nunca esqueço.
E é também lençól sereno de estrelas, onde em paz, eu adormeço.
Quem sempre me aconchega em seu doce calor,
e me instiga a crença de uma feliz existência?
Quem? Quem?
Quem me traz a saudade cativa,
e o peso da memória esquecido num céu poente,
e o peso da memória embebido em saudades de presente,
e o peso da memória leve pena voando altiva.
e o peso da memória que já nem lembra de ninguém?
Quem? Quem?
Quem?
Mais já não sinto que um vago receio prematuro,
foste tu quem assim me fez, e em boa hora.
Tornei-me feito de luz e força, e nem sei bem se o mereço.
Se fui em tempos uma sombra fugidia de desdém,
agora aponto em frente, e ofusco-me com a beleza do futuro,
já cresce célere a coragem, sem demora,
disto eu sei, e por esta memória te agradeço,
mas, quem serás tu meu amor, quem?

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