A eterna comédia humana. Só quando o pesado caixão de mogno subiu para a berlinda negra, só quando a longa fila de automóveis tristes se pôs em marcha, é que ele acordou do pesadelo e viu, conscientemente viu, toda a sua desgraça. Pela primeira vez chorou; chorou não por ela, mas pela ruína total e sem remédio da sua vida inteira. Porque era assim: a partir daquele momento toda a sua vida desabara convertida num montão de escombros. Debaixo dos destroços, ele jazia sepultado - morrera também. Existem angústias tão desoladoras, tão infinitamente cruéis, que ficamos com a sensação nítida de que passámos já para além da morte. É a eterna tristeza humana também.
Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...
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