Avançar para o conteúdo principal

Viver vale o que vale...

Contei pelos dedos o tempo da minha vida e descobri que me esperam menos anos para viver do que aqueles que já vivi, como se toda a minha existência fosse mais feita do que já passou, do que propriamente daquele tempo desconhecido que ainda está por vir.
Já não tenho fôlego para lidar com as miudezas da vida. Não quero estar com invejosos que tentam destruir quem admiram, cobiçando seus lugares, talento e sorte.
 Falta-me a vontade para administrar os melindres de quem pouco faz pelo futuro, se determina a deixar o presente escoar numa peneira sem propósito, e nem um passado que se veja apresenta como referência.
Esta gente não debate conteúdos apenas os rótulos. E o meu tempo torna-se efémero, por demais escasso para debater rótulos. Quero a essência, minha alma tem pressa. Mas não vou correr, pois não quero ver a vida passar-me ao lado, vou caminhar. Caminhar perto da vida e da gente que a vive. O essencial faz a vida valer a pena e para mim, isso basta-me.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

A ilusão de morrer.

Aqui estou no pouco esplendor que expresso. A tornar-me mais e mais fraco à medida que envelheço e perco a parca noção de humanidade que um dia posso ter tido. Só antecipo resultados finais de má sorte. Dor, doenças malignas de inescrutáveis resultados, possibilidades de incontáveis suicídios sem paixão, paragens cardíacas no galgar das escadarias de S. Francisco. Atropelamentos fatais nas intersecções de estradas mal frequentadas. Facadas insuspeitas pelas noites simples de uma pacata Vila do Conde. Ontem quis ir à médica de família, talvez me pudesse passar algum veredicto. Não fui capaz. Não admito os médicos e as suas tretas 'new age'. Há menos de meio-século atrás, esta mesma inteira profissão fumava nos consultórios e pouco ou nada dizia sobre pulmões moribundos. A casa na praia valia mais que o prognóstico verdadeiro impedido. Aqui estou, contudo. Ainda aqui estou. Trapos e lixo vivem melhor as suas existências que eu. Escrevo isto, bebo, escrevo, mais três cigarros. Que