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Finalmente, Paz!

O pequeno conto que poderão ler a seguir, faz parte do projeto: EU AMO ESCREVER organizado pela editora do Rio de Janeiro Livros Ilimitados e pela empresa de moda Cantão. Destina-se a selecionar 10 contos de todos aqueles enviados, para publicação e atribuição de um prémio: Um iPad! Claro, que na fase inicial de pré-seleção, todos os contos confirmados, só passarão à fase seguinte se reunirem um número suficiente de votos populares, daqueles que visitarem a página do Eu Amo Escrever! Conto convosco... Procurem pelo conto Finalmente,
e se gostarem do que vão ler a seguir, Votem!

Fez mórbidos preparativos naquela manhã, para o desfecho há muitos anos congeminado na sua mente de homem perdido.
O Caminho de pedregulhos polidos levava-o a um nicho recatado, mais além da língua de areia da rampa dos Socorros-a-Náufragos, pelo paredão comido por anos e anos de rebentação sistemática, de ondas gigantes de inverno, aí, num cantinho de pescador, Benito, deixou de olhar para trás. Nesse ponto no espaço, o tempo parou. Como se uma parede invisível se erguesse em seu redor, insonorizando o mundo que o circundava, resguardando-o do Universo à volta.
Era o ponto sem regresso, após a barreira do som e da luz. Aqui, encontrou a paz que tanto procurou ao longo da sua vida inteira, escondida atrás de uma grande rocha pontiaguda, entre a Capela de N. Sra. Da Luz e o Farol, emparelhada por outras duas rochas, bojudas, calcinadas por bexigas de pedra, salientes em adoração à inclemência do deus Mar.

O fulcro de uma existência esvanecida aguardava-o paciente, no pequeno entalhe de rocha, esverdeada por gerações de algas ressequidas ao Sol.
Os fantasmas de todas as pessoas importantes da sua vida esvoaçavam livres pelo céu de intenso negrume, bailando à solta pela neblina da noite, como o cruzeiro do Sul, confundindo o torpor da sua memória com a confusa névoa miúda que molhava como chuva.
Nesse vórtice húmido, absorto nessas memórias, estava Benito, agachado como um recém-nascido com frio, com medo. Mas ele merecia esta sorte, merecia-a mais do que os trezentos mexicanos inocentes que tinham morrido naquele desastre. Afinal de contas, o que pode esperar da vida, um homem, que abandona o lar, a mulher, dois filhos, um pai viúvo, irmãos e amigos, e que se despede unicamente do Carro?
A sua sombra molhada lembrava-lhe um triste corvo agoirento, que estampava a rocha onde assentava, com a sua imagem lamuriosa.
Perdera toda a esperança finalmente. Conforme sempre esperara, batera no fundo, e de todos os espetros que uivavam à sua volta, só um lhe lançou um olhar de carinho, aquele que mais amor lhe dedicou, e que mais falta lhe fez, o rosto de bonomia de sua Mãe, que por si só, parecia acalmar a fúria das próprias ondas do mar, que já por demais o ameaçavam engolir, de uma só vez.
Era chegada a hora, conquistou o medo, e agora, pecados perdoados, erros corrigidos, problemas resolvidos, agora, sim, estava em Paz!

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