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Tristeza.

Nem sei bem o que isto é, mas sinto uma tristeza profunda no meu coração hoje. Fui linearmente vexado  verbalmente por um escritor português, que todos conhecem decerto, mas que obviamente prefiro omitir o nome, pela simples razão de não querer descer ao nível da mesma ignomínia que lhe impulsionou as palavras, e tudo isto por ter tido a insólita audácia de lhe transmitir um vulgar pedido de auxílio.
Felizmente que ainda sou ninguém no mundo da literatura, mas começo já a tomar medidas interiores para que nunca, repito, nunca, me venha a transformar em alguém do vulto desse senhor.
É esse um dos medos que mais me aflige, que um dia, o sucesso e a fama, se acharem por bem me agraciarem, me moldem as glândulas da alma, e formem a figura de semelhante homem descomposto.
Não existe solidariedade entre autores, foi a conclusão a que cheguei, sobretudo se os patamares entre eles forem demasiado desnivelados, e o espírito humano dos mais proeminentes se encontrar infetado pelo vírus da arrogância. 
Pauto-me agora por uma postura de humildade que só se adequa a quem tudo tem a ganhar com isso, mas também porque acredito que a presunção da fama é o crivo que mata a elevação do génio. 
Muito lamento que assim seja, não pelas palavras propriamente ditas, mas pela imagem idealizada desse bom escritor, que morreu hoje para mim.

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