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As Aventuras de Rodrigo o Guerreiro Sonhador - Cap. II

Depois de deixarem para trás, a Floresta de Oom, os cavalos alados, Grunch e os peixinhos glu glu glu, os dois companheiros voaram sem descanso por dois dias e três noites seguidas, parando apenas na terceira noite, numa pequena aldeia com casas de telhado de palha para comerem algo e descansarem.
Mas mal Fabio se preparava para aterrar e todos os aldeões começaram a atira-lhe pedras e paus afiados como lanças, tentando a todo o custo afasta-lo daquele sítio. Com grande dificuldade, lá conseguiu chegar ao chão, mas ainda assim a uma distância segura dos aldeões que com olhos de ódio corriam na sua direcção com os paus afiados e forquilhas e foices em punho.
Apenas quando Rodrigo saltou do lombo de Fabio e lhes agitou os braços para que parassem é que eles se detiveram.

É um menino! - Alguém gritou no meio da multidão.
E olhem, não é o Dragão, é um cavalo! Um cavalo que voa! - Gritaram todos espantados.
Um Dragão? - Inquiriu Fabio.
Olhem, e fala também! - Bradou um homem.
Um Dragão? - Voltou a perguntar o cavalo. - Há um Dragão por estas redondezas?
Nessa altura toda a gente se calou. Parecia que o simples mencionar daquela palavra era o suficiente para lhes lembrar da triste sorte que era a deles.
Vendo-os mais calmos, Rodrigo aproximou-se com confiança.
Eu chamo-me Rodrigo e este é Fabio o Rei dos cavalos alados, talvez me possam ajudar – E contou-lhes toda a história da Princesa e do feitiço e de seu Pai Malaquias e da sua Demanda.
Lamento míudo. - Disse um dos homens que estava mais perto de si – Não conhecemos nenhum feiticeiro, somos apenas camponeses que vão sobrevivendo duramente.
E além disso – Diz outro homem – Temos os nossos próprios problemas de magia, com este maldito Dragão que nos rouba as nossas crianças.
Rouba-vos as crianças? - Exclamou Fabio.
Sim. Em cada início de Estação, em todos os anos, lá aparece ele, sabe-se lá de onde, e sempre nos consegue levar mais uma criança.
Apesar – atalha um outro homem – apesar de sempre as escondermos em sítios diferentes todos os quartos do ano.
É inútil – Continua o primeiro homem – Ele sempre as encontra.
Sempre. E sempre leva mais uma. Até deixamos de ter mais filhos. Para quê? O Dragão leva-os. Estamos a envelhecer, e qualquer dia só ficam velhos nesta aldeia.
Mas isso é incrível, porque será que ele faz isso? - Perguntou Rodrigo, intrigado.
O quê que ele lhes faz? - Inquiriu Fabio.
Come-as amigo cavalo. - disse um dos camponeses – Devora-as, engole-as inteiras de um só trago.

Os dois amigos ficaram estupefactos ao ouvirem aquilo, imaginado as pobres crianças a serem devoradas pelo malvado Dragão cuspidor de fogo.
E nunca vos atacou a voçês, só às crianças? - Perguntou Fabio.
A carne de criança é tenra e saborosa, nós somos todos velhos e duros de engolir.
Não sabemos mais o que haveremos de fazer. Nós lutamos com ele quando aparece, mas ele é forte e poderoso, e todas as estações descobre onde escondemos os nossos filhos. É inútil.
E mais uma estação se aproxima, o Verão está aí a chegar, e o Dragão também.
Se pelo menos Grunch estivesse aqui. Ele saberia o que fazer. - Disse o cavalo.
Espera Fabio. - Exclama Rodrigo – Tive uma ideia.
O quê? - Pergunta o cavalo, curioso.
Vamos fazer o seguinte. O Dragão, só leva as crianças certo?
Sim. - Diz um dos camponeses.
Pois bem, - Continua o rapaz – Eu sou uma criança, e desta vez quando ele voltar, não vai precisar procurar os vossos filhos pois eu vou estar á sua espera, e vai ser a mim que ele apanhará.
Isso é uma loucura Rodrigo! Só te vais sacrificar a ti mesmo, e no próximo Outono ele voltará e irá levar mais uma criança.
Não Fabio, porque eu não sou uma criança qualquer, vou ensinar àquele malvado Dragão a meter-se com alguém mais do seu tamanho.
Tens a certeza de que queres fazer isso?
Sim tenho. E tu vais-me ajudar.
Durante os dias de calor intenso que se seguiram, os dois companheiros, ficaram naquela aldeia triste, povoada por homens e mulheres tristes, que viviam vidas tristes por um motivo tão triste como o simples facto de haver um Dragão que lhes roubava e comia as crianças.
Sim, de facto a tristeza dominava aquela aldeia, pois são as crianças que dão alegria a tudo e não havendo crianças para lhes animar a vida, que mais lhes restaria. E as poucas que ainda existiam, tinham de ser escondidas tão longe deles que por vezes até se esqueciam delas.
Rodrigo não ía deixar as coisas ficarem assim, não senhor, havia de dar uma lição àquele malvado Dragão comedor de crianças, e já tinha um plano preparado para isso.
Então é assim Fabio, é assim que vamos fazer. Eu sou mais uma criança, e para o Dragão não faz diferença nenhuma se eu nasci aqui ou não, ele apanha-me logo que me vir, mas tu, tu és o nosso trunfo.
Eu?
Sim. Tu és um cavalo alado, aliás o Rei dos Cavalos alados, e para o Dragão vais ser uma surpresa. Ele nunca esperaria encontrar um aqui.
Sim, e?
E pronto, não vês?
Não.
O elemento surpresa está do nosso lado, quando ele aparecer, tu apareces na frente dele e pimba!
Pimba!
Sim. Ele vai ficar tão atolombado contigo que até se vai esquecer de mim por momentos, e quando estiver mesmo muito perto, eu espeto-lhe a minha espada mágica.
O quê? Isso é totalmente irresponsável, para já não dizer que é muito perigoso. Ai, ainda se ao menos o Grunch aqui estivesse.
Olha lá, mas tu és o rei dos cavalos alados ou quê?
Pois, Cavalo, cavalo percebeste? E ele é um dragão.
Ora Fabio, não me vais dizer que tás com medo de um Dragãozinho,vais?
Eu? Medo? Claro que não! Eu sou Fabio o Rei dos Cavalos Alados.
Boa, é esse o espírito. Então o plano mantem-se, ok?
Sim...Não...Ah não sei, ora conta-me lá o plano outra vez
De repente ouvem-se gritos a virem da aldeia, gritos desesperados de medo. Mesmo à distância consegue-se cheirar a palha chamuscada e junto com os gritos de medo, ouvem-se também rugidos potentes. É o Dragão.
Sem dizer mais uma palavra, Rodrigo, olha para Fabio, este olha para Rodrigo e desatam os dois a correrem na direcção da aldeia. O cavalo levanta vôo e perde-se de vista por detrás de nuvens de algodão puro.
O rapaz enquanto corre, levanta a sua espada mágica, e num grito de guerra enterra-se na nuvem de fumo que o Dragão havia deixado pelo caminho. Este entretanto, num frenesi desesperado, continua destruindo tudo há sua volta, lançando enormes bolas de fogo, e serpenteando com a mortífera cauda que tudo leva à frente. Os tristes aldeões bem tentam lhe dar luta, mas que podem forquilhas e paus afiados fazer contra tal poder de fogo.
A confusão instala-se na aldeia, por todo lado se vêm pessoas a correr para aqui e para ali, pequenos animais com corpo de porco e focinho de galinha, chamados Zazus, lançam guinchos estridentes de medo, Aramis que são uma espécie de vacas sem cornos e sem tetas mas com bigodes de gato, e Lunas, cabrinhas ternurentas com caudas e ladrar de cão, atropelam-se uns aos outros, na sua fuga desenfreada. De uma casa mais além surgem três homens com archotes tentando combater fogo com fogo, tolos, o Dragão nem os viu, tão obstinado estava em encontrar as crianças, e em meio a todo este caos surge Rodrigo, imponente, zombeteiro, de espada em punho.
Tu aí Ó Dragão! Olha para aqui. Eu sou Rodrigo, matador de Dragões, e eu vou acabar contigo.
Céus, - Pensou Fabio – Ele está completamente maluco!
Foi então que o Rei dos Cavalos Alados se lembrou do plano do seu amigo, e sem hesitar, lançou-se em vôo picado na direcção do Dragão. Primeiro ouvia-se o seu grito por entre as nuvens de algodão, depois, finalmente surgiu em todo o seu esplendor na frente de um Dragão bastante admirado com aquela visão vinda dos céus.
Mas o plano de Rodrigo, não teve bem o desfecho que este esperara. Quase imediatamente o Dragão alçou vôo, perseguindo um cavalo muito, muito aterrorizado com aquele gigantesco réptil bufador de fogo que o perseguia.
E agora Rodrigo, o que é que eu faço? - Disse, enquanto largava a toda a velocidade por entre as nuvens – Tens mais alguma das tuas fabulosas ideias?
Aqui, aqui seu Dragão maldito – Gritou o rapaz.
Mas o Dragão nem lhe fez caso. Contraiu o volumoso pescoço, e daí saiu mais uma infernal bola de fogo, mesmo na direcção de Fabio.
Rodrigo! - Voltou a gritar o cavalo.
Manda-lhe um coice nos olhos, de certeza que ele pára – Retorquiu o míudo.
Isso é o melhor que te ocorre neste momento?
Bem, é! - Exclamou Rodrigo.
Obrigadinho, mas acho que não vai ser lá muito fácil aproximar-me assim tanto dos seus olhos, não sei se estás a ver?
Desce, desce. Vem ter comigo que ele te seguirá. Eu acabo com ele.
Raio do Puto, pensa que é o Hércules ou quê? - Proferiu Fabio, enquanto numa manobra extraordinária, fintava o Dragão, e mergulhava a pique na direcção do chão. - Oh Céus, eu vou morrer, eu vou morrer! - Bradava.
O Dragão obviamente seguiu-o e quando atrevessou a nuvem de fumo que cobria a aldeia deu de caras com um rapaz de espada em punho e cara de mau a olhar para si e a ranger os dentes enquanto dizia: - És meu Dragão, és meu!
Mas por fim, apercebendo-se da tramóia, o Dragão, não avançou. Pelo contrário, estacou em pleno ar, olhou olhos nos olhos para Rodrigo e por fim abalou dali para fora, soltando ainda um rugido de vingança que pairou por toda a aldeia.
Nenhuma criança foi levada ou comida, os aldeões recompondo-se de mais aquele ataque, deram todos gritos de vitória e acorreram na direcção de Rodrigo para o louvar.
Segue-o Fabio – Gritou o menino para o cavalo alado. Isto acaba aqui e hoje.
Fabio nem pensou, e ergueu-se novamente aos céus na pista do Dragão.
A paz instalara-se novamente na aldeia, e mesmo antes que Rodrigo pudesse apanhar os Tazos que lhe haviam saltado do cinto durante a refrega, já os exultantes camponeses o erguiam sobre os seus ombros e gritavam: Viva Rodrigo. Viva o matador de Dragões.

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