A incapacidade de resultados compele-nos à frustração. Ninguém mostra um sorriso se não quiser que o vejam, nenhuma canção tem efeito ao ser cantada para um espelho, da mesma forma ninguém escreve um livro e anseia guardá-lo numa gaveta. O mesmo acontece comigo.
Compreendo o processo, mas antecipo o desaire com a passagem do tempo.
O mundo editorial mudou muito nestes últimos anos, reflexo destes tempos em que vivemos com certeza, e surgem cada vez mais editoras que pouco mais fazem que amachucarem os sonhos de um novo escritor.
As ditas "editoras convencionais", vão morrendo aos poucos, assassinadas pelos e-books e por estas outras casas de publicação automática ao custo de uma moeda enfiada na ranhura.
Não me considero ingénuo, pois não estou sentado na espera confiante de ter escrito uma obra-prima que as grandes editoras irão disputar ávidamente. Aqueles nomes mais sonantes são agora parte integrante de grandes conglomerados editoriais que anseiam sobretudo o lucro cego, e apostam exclusivamente em autores que, ou tenham já obra exposta, quer sejam livros ou trabalho jornalístico, ou então naqueles que se apresentam perante eles com qualquer espécie de currículo de imagem pública já firmada, todos os restantes são submetidos para o oblívio das sua próprias frustrações.
Aparte disto, subsistem as editoras de auto-publicação onde por um preço irrisório se pode premir num botão e criar um livro. Mas onde está o encanto disto? Onde está a aventura de se apostar num talento desconhecido e fazer nascer um novo autor aos olhos de todos? Desapareceu com o preço do dinheiro.
Paralelamente pululam tantas outras editoras que de fato investem no desconhecido, mas com custos iniciais incomportáveis às expensas do autor, a resposta é sempre imediata, e positiva não queiram lá ver, afinal de contas, é nessa premissa do investimento inicial do escritor que elas obtêm o seu lucro garantido.
É verdade, dou-me conta que sou mesmo ingénuo. O belo processo da escrita apaixonada fenece morredoira antes mesmo de alcançar os olhos do público. E somente porque não sou conhecido, não tenho habilitações ou currículo, sou logo catalogado como imerecido para concretizar um sonho.
E nem a mão amiga de alguns escritores já firmados neste panorama, consigo arregimentar em meu auxílio. Suponho que seja a velha lei da concorrência em ação. Ou quiçá seja que já se terão esquecido dos tempos em que viviam as mesmas angústias que agora eu experimento, e lhes cresceu o ego em proporção à fama obtida. Não sei. São monólogos as conversas que vou tendo com estes.
Talvez seja tempo de realizar que é possível que seja um mau escritor. Aqui poderá estar o porquê da minha tristeza. Mas quem me poderá alguma vez julgar se não me conhecer?
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