Avançar para o conteúdo principal

As aventuras de Rodrigo - O Guerreiro Sonhador - Cap.I


Já tarde ía a Primavera no seu correr de Estação ao longo do ano, e por todo lado se sentia o calor do Verão a querer surgir, assim foi que numa tarde muito quente de Junho, encontramos Rodrigo com o seu cinto de Tazos a tiracolo a vaguear alegremente pela floresta encantada de Oom, dizia-se que aí vivia Grunch, o treinador de cavalos alados, e Rodrigo procurava-o.

Diziam-se maravilhas dos cavalos alados, principalmente daqueles treinados por Grunch, e como nunca tinha visto  nenhum, estava muito excitado. Ao adensar-se floresta dentro, ouviam-se estranhas melodias que pareciam vir das próprias copas das árvores, uma música estranha e entranhante, que ora subia ora descia parecendo acompanhar os seus próprios passos, os ramos das árvores agitavam-se, e com eles as folhas a eles agarradas, e nem ponta de vento se fazia sentir, muito embora estivesse fresco e calmo ali, o som daquela música maravilhosa continuava a propagar-se pelos trilhos da floresta, pelo céu lá em cima, pela própria cabeça de Rodrigo, de tal maneira suave e enebriante que ele se começou a sentir zonzo, tanto, tanto, que rodopiou sobre si mesmo e caiu estatelado na cama de folhas do chão da Floresta de Oom. Acordou com a sensação de lhe terem atirado um balde de água fresca à cara, mas não, nada disso. Uma enorme sombra pendia sobre si, tão grande que lhe tapava todo o campo de visão, mas a impressão de cara molhada ainda persistia, era um cavalo que lhe lambia a face, com a sua língua de cavalo estranhamente suave e fresca.

Mas não era nenhum cavalo qualquer, não senhor! Era nada mais nada menos do que Fabio, o maior e mais belo cavalo alado que já alguma vez existiu, e também um dos que Grunch, o treinador de cavalos alados dava abrigo.


-Olá pequeno, sentes-te bem? - Disse Fabio.


-Sim,eu estou...Espera, tu falas? - Respondeu Rodrigo com espanto, levantando-se num ápice.


-Eu? Se falo? Claro que falo.Tu também não falas? - Respondeu o cavalo, algo indignado.


-Bem...sim,mas tu, tu és.. - -


-Um cavalo? Sim, é verdade. Sentias-te melhor se um fosse um jumento? Mas não sou um cavalo qualquer,sou um cavalo que voa. Olha só para isto. - E num impulso rápido, Fabio ergueu as suas colossais asas que se encontravam ocultas sobre o seu dorso, e desatou a cavalgar floresta dentro, esquivando-se ora aqui ora ali, de todas as árvores que lhe aparecessem à frente, até chegar a uma clareira, onde com um salto magnífico levantou vôo, erguendo-se muito acima das árvores, até a sua figura tapar o próprio Sol.


Rodrigo correu em seu alcanço tentando desviar-se das árvores com igual destreza enquanto que com os olhos tentava seguir o vôo do cavalo, no entanto, Rodrigo não era um cavalo voador, e a sua cabeça ainda se encontrava um bocadinho atolombada daquela música mágica, acabou por embater numa árvore violentamente, batendo com a cabeça e acabando por se esparramar no chão novamente. Duas vezes no mesmo dia, é demais!


Desta vez, acordou por si só, mas já não estava no meio da floresta. Alguém o tinha levado, enquanto estava inconsciente para um sítio muito belo, onde um pequeno riacho corria por entre pedrinhas coloridas e peixes estranhos que faziam glu glu glu, saltavam alegremente. Levantou-se da cama de penas, onde o tinham deitado e decidiu explorar aquele sítio. Não encontrou ninguém por perto, apenas maravilhas que o deslumbravam cada vez mais. A casa onde estivera, era toda feita de pedras coloridas também, e a decorar as suas paredes estavam os mais belos desenhos de cavalos que ele alguma vez havia visto. Só que estes tinham asas e pareciam tão felizes no seu voar livre de cavalos, que bem, Rodrigo apenas pode concluir que aquele lugar só podia ser a escola de Grunch, o treinador de cavalos alados. Estava no sítio certo portanto.


Aventurou-se para os lados do riacho, para tentar ver um daqueles peixes que faziam glu glu glu, e ao acercar-se da beirada do riacho, logo todos surgiram à tona da água, mesmo na sua frente, e em uníssono entoaram uma canção glu glu glu, muito agradável. Que lugar tão interessante aquele. Rodrigo, deitou-se no chão coberto de folhas e relaxou ao som daquela sinfonia de glu glu glus,até que de repente um estrondo vindo da floresta o alarmou. O ruído parecia aumentar de minuto a minuto, ensurdecedor. Ribombava-lhe nos ouvidos com tal força que teve de os tapar com as mãos, e o mais alarmante era que o ruído vinha precisamente na sua direcção. Receou por si mesmo, mas decidiu ali ficar para descobrir do que se tratava, Rodrigo podia ser tudo mas não era covarde, ai não não era.


O mais estranho era que os peixes glu glu glu, continuavam a sua canção gorgolejante e não pareciam minimamente amedrontados com o ruído aterrador que surgia do interior da floresta. - Será que os peixes são surdos? - Pensou Rodrigo. - Se calhar são. - Concluiu.


Então, quando já decidido a defender a sua vida de tal barulhenta besta que se aproximava, sacou dasua espada mágica e preparou-se para o que desse e viesse. O som estridente pareceu atingir o seu máximo a uma distância tão perto de si que por essa altura já deveria ver seja o quer que fosse que dali viesse, mas tão inexplicavelmente quanto surgiu, de repente o barulho parou, e tudo o que apareceu da orla da floresta, foi um pequeno homem atarracado, que mais parecia um anãozinho.


De imediato todos os peixes glu glu glu, nadaram para o outro extremo do riacho, mais a levante onde uma pequena pontinha, também ela feita de pequenas pedra coloridas, permitia a alguém atravessar o riacho sem molhar os pés. Aí já se encontrava o pequeno homenzinho que da floresta havia surgido, e que sabe-se lá porquê, havia feito toda aquela barulheira.


Os peixes aglomeravam-se na margem junto a ele fazendo uns glu glu glus tão animados, que pareciam estar a receber em casa o próprio criador.


Rodrigo, admirado que estava com tudo aquilo, nem uma palavra disse, limitou-se a ficar parado, com a espada mágica na mão a ver aquele espetáculo. Até que o pequeno anão se aproximou e lhe disse com uma vozinha muito apagada: - Eu chamo-me Grunch, bem vindo à minha escola de cavalos alados.-


O pobre rapaz, já de si mudo de espanto com aquilo tudo, ficou ainda mais surpreendido com esta notícia. Como é que aquela criatura tão pequena podia ser treinador de cavalos alados tão grandes como elefantes?


-Voçê é que é “O Grunch”?


-Sim,sou eu. Porquê todo esse espanto?-


-Bem, porque voçê é tão pequeno, e eles são tão grandes, pensei que Grunch fosse um gigante ou assim,sabe!


-Não se deve julgar as pessoas pelo seu aspecto, mas sim por aquilo que fazem, pelo que têm cá dentro. - Disse o pequeno homem enquanto punha a sua mão sobre o coração. -


Naquele instante uma sombra do tamanho do mundo cobriu o céu inteiro, mesmo por cima deles, e quando Rodrigo olhou, lá estavam. Os cavalos alados, pairavam como helicópteros com crina, exibindo sorrisos rasgados e destacando-se de todos, estava Fabio acenando-lhe com o focinho.


Então foram eles que fizeram todo aquele barulho – Imaginou Rodrigo. - Que lindos que são, valeu bem a pena ter vindo aqui para os ver.


- E foi para isso que aqui vieste rapazinho? - Questionou Grunch.


-Bem, na verdade. Vim aqui porque estou numa demanda e preciso de toda a ajuda que puder.


Tu, rapazinho? Numa demanda? Não és pequeno demais para uma coisa dessas?


Desculpe senhor, mas sou bem maior do que voçê. - Respondeu Rodrigo bastante zangado.


Ah Ah Ah Ah – Riu-se Grunch estridentemente.


Não sei porque se ri senhor. O caso é sério. O Rei Condor, tem uma filha, a princesa Lia, e ela está sob o feitíço de um malvado mago. A pobrezinha não consegue mexer-se, é uma estátua de pedra no meio da praça.


Desculpa-me se me ri. O caso parece sério de facto.


E é senhor, e é. Tão sério, que ela já está assim há muitos anos e ninguém, nenhum remédio, poção ou encantamento a consegue retirar de tão lastimoso estado.


Sendo assim, diz-me o que precisas, e eu ajudar-te-ei no que puder.


Bem, é complicado, mas vou tentar explicar-lhe. O Rei, no seu desespero mandou um exército atacar o castelo do feiticeiro responsável pelo estado da princesa. Excusado será dizer que todos os soldados desapareceram para sempre.O Feiticeiro transformou-os a todos em pulgas e depois pisou-as. Todos, excepto um. O bravo Malaquias, um dos escudeiros que consegui esconder-se a tempo de escapar ao encantamento demoníaco.


Mas isso é terrível, pobres soldados.


Sim, é como lhe conto senhor. Mas quis a sorte que Malaquias escapasse a tão terrível destino. Depois, a coberto da noite, ele corajosamente entrou no castelo do feiticeiro e conseguiu surrupiar-lhe o livro de feitiços. Parecía que a Princesa estava a salvo, mas infelizmente...


Infelizmente o quê? - Perguntou Grunch muito curioso.


Infelizmente, ninguém sabia como reverter o feitíço. O livro apenas dava instruções mas são precisas as artes mágicas de um verdadeiro feitiçeiro para o encanto ser quebrado.


Essa agora, que grande chatice.


Assim o é, senhor, de facto uma grande chatice. E é aqui que eu entro na história. Os anos passaram-se, e por todo o Reino se procurou um feiticeiro que pudesse ser capaz desse feito.


E nada?


Nada!


A Princesa permanecia no seu pedestral de pedra no meio da praça, e o Rei envelhecia no seu desespero de pai, assim como também envelhecia Malaquias, o meu Pai.


Ah, então, o filho vai agora terminar o que o pai deixou a meio.


Exacto. Hei-de correr os quatro cantos do mundo mas encontrarei um bom feiticeiro que possa combater o malvado feitíço de Gorgon.


Mas eu não sou feiticeiro rapaz, como te puderei ajudar?


Vou directo ao assunto senhor Grunch. Preciso de um dos seus cavalos alados. Na verdade preciso do melhor deles. Preciso de Fabio.


Grunch Olhou para o rosto assustado do rapaz e não pensou duas vezes, num assobio comprido chamou a si os cavalos alados que ainda pairavam como colibris gigantes sobre eles, de imediato todos baixaram ao chão, e logo se aproximou Fabio. Não foi preciso dizer nada. O cavalo passou por Grunch e ambos acenaram as cabeças, depois, calmamente pegou na camisa de Rodrigo com os dentes e arremessou-o de uma vez só para o seu dorso. Os peixes glu glu glu cantavam uma canção triste de despedida, todos os outros cavalos alados voltaram a levantar vôo.


Obrigado senhor Grunch. Nem sei como lhe agradecer. - Disse Rodrigo.


Não me agradeças a mim rapaz, agradece a Fabio. Ele é que decidiu ir contigo. Estas criaturas maravilhosas que eu treino são seres livres e nobres, e não me pertencem, eu apenas os guio nas coisas da vida. Façam boa viagem e que tenhas sucesso na tua demanda, eu vou estar a torcer por ti.


Adeus. - Disse o Rapaz.


Até breve – Disse o cavalo, com uma lágrima a escorrer-lhe do olho – Eu voltarei.


E lá partiram os dois, pelos céus infinitos na busca de um feiticeiro.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '