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O Barbosa, o Barbosa...morto de paz.

A vontade de estar tudo bem com todos,

carrega uma lâmina no bolso de trás,

entende os tolos sorridentes e só mata aqueles que ignora.

E a solidão que está tão mal comigo, tão mal comigo...

preciso da chuva para acabar com esta má sorte,

que me acaba mais por si só, que a promessa de boa vida,

o faz, com melhores modos.

Estas palavras vão aquele que essa morte me traz,

sei o que faz, o que diz, come, sei até onde mora.

Traz fungos no fígado, e do sol é inimigo,

precisa da chuva para se fingir de forte,

da tristeza sem fim, para se enfiar nesta luta aguerrida.

Enverga uma lâmina de fazer inveja aos Ostrogodos,

e três medidas extremas no coração, todas exactas e más.

Uma fugiu-lhe do sangue, saiu e foi-se embora,

foi vista a percorrer as ruas de Vigo.

Outra, manteve-se colada à mão, a servir-lhe de passaporte,

amiúde viajava-lhe a vontade, assim mesmo, consentida,


...em paz!


In: "Uma velha de amarelo a empurrar um carrinho de compras"
2022


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