Há uma infinidade de prazeres humanos.
Para mim, o prazer que me faz sentir humano, é o de um arroz de sarrabulho, acompanhado com os devidos suculentos rojões aconchegados com a tripa, o bucho e os demais companheiros, em uma obscura casa de pasto em Ponte de Lima (não vos digo o nome, pois não quero aquilo invadido por bárbaros, vulgo os comensais de Domingo, que lêem a "Time-Out" vez em quando e já se julgam 'gourmets'.) - Já tentei o sexo tântrico, a velocidade, o deboche da auto-destruição, o total desprovir e a graça do amor. Acabo sempre naquela travessa que cruza o vão de uma longa abertura entre a cozinha e a sala rústica onde se juntam os afortunados. Sei que provem das mãos de uma senhora mirradinha, do outro lado da fenda de criação. Sei-o, porque lhe antevejo a pinheira de bigode acima das mãos que conjuram aquele milagre de prazer.
Há uma infinidade de prazeres humanos.
Encontrar o nosso, pode ser o caminho para a felicidade. Ainda que esta acarrete tanta negatividade neste tempo. Sejam os pobres animais sacrificados ao seu consumo desenfreado, sejam os porcos até. Todas as criaturas se atiram ao abismo, de bom grado, se isto lhes conceder aquela ínfima centelha de onde lhes provem o prazer. Grosso modo, no tempo finito de que dispomos, agarramo-nos ao que descobrimos ser a fonte do nosso maior prazer, pode vir a ser a instância onde melhor nos acomodemos aguardando o fim. E, se depois de tudo isto, ainda acharmos que vale a pena outra coisa qualquer. E, também, se ainda nos restar tempo para tal. Atiremo-nos, pois.
Há uma infinidade de prazeres humanos.
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